Para compensar a queda nas vendas, traficantes buscam ampliar o controle de novas ‘bocas de fumos’ para dominar outros territórios que estão sob o comando de grupos rivais
A mudança na rotina das cidades causada pela pandemia do novo coronavírus trouxe uma série de alterações na criminalidade. O número de crimes patrimoniais, como furtos e roubos, diminuiu, enquanto homicídios dolosos se tornaram mais freqüentes. É o caso de Macaé que, por semana, o número de assassinatos varia entre três a quatro, e por mês pode chegar de 10 a 16 execuções.
Dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) apontam que o mês de março de 2020 foi o mais violento desde o último ano de 2016, em comparação o mesmo período.
Ao longo dos 31 dias do mês de março, 23 pessoas foram assassinadas, aproximadamente uma morte por dia e seis por semana. Em comparação com o mesmo período de 2019, houve quatro registros de assassinatos, aumento de 94%. O mês de janeiro em Macaé assume a vice-liderança no que tange a criminalidade com 13 execuções contra quatro assassinatos no mesmo período do ano passado.
Para a polícia, o aumento está relacionado com a disputa por pontos de comércio de drogas, sobretudo em grande cidade do interior do Estado. De janeiro a abril deste ano foram registrados 50 assassinatos contra 23 no mesmo período do ano passado.
Especialistas em segurança pública destacam que nem mesmo a pandemia do novo coronavírus, que obrigou a adoção de medidas restritivas de circulação de pessoas e fechamento do comércio no Estado, conteve o avanço da criminalidade neste ano.
O professor e cientista político, Júlio Boldrini, avalia que a chegada do vírus é responsável pela redução da aglomeração de pessoas nas ruas e, consequentemente, do comércio de entorpecentes. Para compensar a queda nas vendas, além de cobrar dívidas dos usuários, os traficantes estão buscando ampliar o controle de novas ‘bocas de fumos’ para dominar outros territórios que estão sob o comando de grupos rivais. A meta é ampliar a renda prejudicada por conta da nova rotina dos usuários.
“É possível observar o maior número de incidente de homicídios por conta da disputa do tráfico de drogas ilícitas, sobretudo, nas comunidades que abriga áreas com atuações mais marcantes dos grupos ligados ao tráfico. Já observamos que esse cenário também é visto em outros estados brasileiros”, analisou Júlio.
O cientista político destaca que essa ‘nova normalidade’ provocada pelo coronavírus obriga a adoção de diferentes políticas públicas de segurança por parte do Governo do Estado.
“O que pode estar acontecendo é uma redução muito drástica na venda de drogas e isso acaba incitando a disputa por mercado. É possível presenciar uma situação inusitada que exigem novas ações. Onde antes precisava de policiamento, pode ser que não se precise mais. Então a atenção deve ser voltada para outra área”, enfatiza.
Especialistas em segurança pública afirmam que, houve mudança na dinâmica do tráfico. Esse aumento do número de homicídios no mês de março foi atípico, ocasionado por uma ação do tráfico de drogas que buscou ampliar o seu lucro cobrando dívidas ou tentando ampliar os seus pontos de vendas.
Vale lembrar que, nos meses de março e abril, as Polícias Civil e Militar registraram vários confrontos entre traficantes que buscavam dominar o território de facções rivais e policiais que tentavam inibir a criminalidade nas comunidades Malvinas, Botafogo, Lagomar, Ajuda, Engenho da Praia e Cajueiros.