Finalmente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) acenou com uma nova nomenclatura para a monkeypox ou varíola dos macacos, como é conhecida no Brasil. Isso acontece depois de muita polêmica e denúncias de discriminação e racismo e, aqui, da morte de macacos, por ignorância e medo.
De acordo com comunicado divulgado ontem, 28/11, à medida que novos casos foram confirmados no decorrer de 2022, a organização identificou e recebeu relatos do uso de “linguagem racista e estigmatizante” associada à doença nas redes sociais.
No Brasil, além da discriminação, a ignorância a cerca da origem do nome provocou medo, que levou à morte (assassinato) de primatas, como aconteceu em agosto deste ano em São José do Rio Preto, interior de São Paulo.
Ao tomar conhecimento do crime contra os macacos, a OMS, se manifestou. Em Genebra, sua porta-voz, Margareth Harris, explicou que, em 1970, a doença foi nomeada como monkeypox ou ‘varíola dos macacos’ por ter sido identificada, primeiro, nos anos 50, em macacos num zoológico da Dinamarca, salientando que o vírus está presente em vários animais.
E enfatizou que o surto mundial está ocorrendo devido à “transmissão entre humanos, com contato próximo”, completando: “O vírus está em alguns animais,, mas não é o que estamos vendo agora. O risco é de outro humano, e a forma de impedir a propagação é reconhecer os sintomas, buscar ajuda e cuidar para que não haja a transmissão. As pessoas não devem atacar animais”.
No mesmo mês, dezenas de cientistas das mais renomadas instituições e centros de pesquisa globais – entre eles, o premiado brasileiro Tulio de Oliveira – divulgaram carta aberta à OMS, solicitando a mudança da nomenclatura da doença, não apenas para proteger os macacos, mas para evitar ainda mais discriminação e estigma contra a África.
Em meio a mobilizações, a OMS declarou que estava consultando especialistas – para encontrar uma nova denominação – e, em breve, divulgaria um sinônimo para monkeypox.
Um ano de adaptação
Assim, monkeypox foi abreviado pela OMS e virou mpox, quase um apelido! O prazo para que todo o mundo adote a nova nomenclatura é de um ano, enquanto isso ela poderá ser utilizada simultaneamente à nomenclatura anterior.
“As considerações para as recomendações incluíram justificativa, adequação científica, extensão do uso atual, pronúncia, usabilidade em diferentes idiomas, ausência de referências geográficas ou zoológicas e facilidade de recuperação de informações científicas históricas”, declarou a OMS.
Assim, mpox deve torna-se o termo preferencial para designar a doença, substituindo monkeypox durante o período determinado, que pode atenuar as questões levantadas por especialistas sobre possível confusão causada pela adoção de um novo nome, em meio a um surto mundial.
O período determinado também atende ao processo de atualização das publicações da OMS e da CID (Classificação Internacional de Doenças, que é um sistema de códigos criado pela OMS e utilizado no mundo todo para padronizar a linguagem entre os médicos, além de monitorar a incidência e a prevalência de cada doença). O sinônimo será incluído no CID-10 online em breve.
A nova nomenclatura fará parte do lançamento oficial do padrão global atual para dados de saúde, documentação clínica e agregação estatística (ICD-11) de 2023.
A título de curiosidade, vale destacar que, em 2015, a OMS publicou normas que definiram os padrões para a nomeação de doenças. Entre os critérios, a organização indicou que os nomes adotados deveriam evitar ofensas a qualquer grupo – cultural, social, nacional, regional, profissional ou étnico – e minimizar o impacto negativo que as doenças pudessem causar, também nos segmentos de turismo, comércio e bem-estar animal.
No entanto, quando surgiu a variação da monkeypox, esses critérios não foram levados em conta e o nome ‘varíola dos macacos’ se espalhou tão rápido quanto a doença no país.
Brasil, líder em mortes
A notícia da OMS sobre a nova nomenclatura coincide com o oitavo óbito registrado no país: em Divinópolis, no estado de Minas Gerais, no último sábado, 25/11 (Minas apresentou o primeiro caso e, agora, são três).
Somos, então, o país com o maior número de mortes pela doença no mundo, ultrapassando a Nigéria (com sete), localizada no continente africano, onde a doença é endêmica. Também deixamos os Estados Unidos pra trás, em mortes, apesar de o país ter o triplo de casos.
Ontem, segundo o Ministério da Saúde, o Brasil atingiu 10 mil casos de pessoas infectadas com o vírus da mpox. O líder, neste ranking, continua sendo os Estados Unidos, com 29 mil infectados. Até agora, no mundo já são 81 mil casos, de acordo com o monitoramento da OMS.
Por Mônica Nunes/ site Conexão Planeta