Juliano Bueno de Araújo, diretor-técnico da ARAYARA
Ivens Drumond, analista de advocacy da ARAYARA
Dona de uma bela orla, com lagoas e enseadas, a Macaé pode ter sua paisagem ainda mais transfigurada. E quem vai pagar a conta são os moradores, que ficarão com o ônus dos passivos ambientais. Há interesses em instalar no município um complexo com 11 usinas termoelétricas; gasodutos que levarão gás natural da Bacia de Campos para o Porto de Açú; duas linhas de transmissão para conectar ao sistema interligado, ampliar o terminal de processamento de gás natural da Petrobras em Cabiúnas e criar um loteamento industrial para receber as termoelétricas. Sem falar uma Pequena Central Hidrelétrica (PCH). Esse projeto é uma tragédia anunciada não só para o município, mas para toda região.
A cidade hoje já sofre com a falta de água para abastecimento. Em seu território ficam a Usina Termoelétrica Norte Fluminense, instalada em 1999, e a UTE Termomacaé, em 2001. E também tem a termoelétrica Marlim Azul I, que está em fase de implementação e deve ser entregue em 2023.
Apesar de tudo isso, a população não será beneficiada. E mais, a conta de luz ficará mais cara para todo mundo, pois a energia será conectada ao Sistema Interligado Nacional, para atender todo o país.
Nós, do Instituto Internacional ARAYARA, que atuamos em vários lugares do Brasil onde a segurança da população é colocada em risco para produzir combustíveis fósseis -aqueles que vem agravando o aquecimento do planeta – sabemos que esse projeto trará problemas para todos, em detrimento dos interesses de alguns.
Frente a tantos danos, entidades da sociedade civil, ambientalistas e acadêmicos têm se mobilizado contra a instalação do complexo termoelétrico em Macaé. Vamos entrar na justiça contra a implantação desses empreendimentos, com o apoio do Observatório do Petróleo e Gás, Observatório do Clima e Internacional Rivers.
Vale lembrar que o relatório do Painel Intergovernamental Mudanças Climáticas 2022: Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade, lançado hoje, segunda, dia 4 de abril, com a avaliação dos impactos das mudanças climáticas sobre os ecossistemas, a biodiversidade e as comunidades humanas nos níveis global e regional alerta que não podemos mais perder tempo. A sociedade precisa acordar para os riscos das vulnerabilidades e sua capacidade de enfrentar os desastres e se adaptar às mudanças climáticas. Promover a extração de mais gás é contribuir para o agravamento de problemas que o Rio de Janeiro, o Brasil e o mundo, já estão enfrentando.