Segundo especialistas, o desequilíbrio na microbiota intestinal, a disbiose, tem ação no desenvolvimento de doenças psiquiátricas
O que será que acontece quando não há uma boa “conversa” entre o intestino e o cérebro? Por mais curioso que possa parecer, o desequilíbrio na microbiota intestinal, a disbiose, tem uma ação importante no desenvolvimento de doenças neurológicas e psiquiátricas.
Uma revisão de estudos científicos realizada por uma equipe das áreas de neurologia, medicina do sono e nutrição da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) investigou essa relação.
O neurologista e neurofisiologista da USP Diego de Castro explica que microbiota é o conjunto de bactérias que vive em harmonia, em troca com o organismo humano. Ele explica que, além da microbiota intestinal, há a oral, a anal e a vaginal.
“Aquilo que a gente come é o principal responsável pelo desequilíbrio. Mas fatores como estresse, consumo de álcool, ritmo de vida, sono atrasado, insônia e o tipo de trabalho ao qual a pessoa é submetida também influenciam”.
Segundo o psiquiatra e mestre em Fisiologia Valber Dias Pinto, a microbiota intestinal ajuda na produção de neurotransmissores. “O paciente que faz uma dieta, por exemplo, muito restritiva em carboidratos, a maioria vem parar aqui com a gente, porque a falha no carboidrato diminui o aporte de triptofano, que é o precussor da serotonina, neurotransmissor que dá a sensação de bem-estar”.
O psiquiatra José Luis Leal observa que a disbiose pode causar outras doenças neurológicas e psiquiátricas. “Alterações em nível da função intestinal pelo processo inflamatório causam a produção de toxinas que passam pela corrente sanguínea, atingindo a comunicação cérebro espinhal, e do cérebro com o sangue, aumentando a passagem dessas toxinas. Aumentam as chances de desenvolver dor lombar, neuropatias, inclusive demências”.
A gastroenterologista e endoscopista Renata Lugão chama a atenção para o tratamento. “O tratamento da disbiose, dessa alteração da microbiota, inclui desde uma melhora de alimentação, mais saudável, evitando ultraprocessados, até a introdução de atividade física para reajuste do equilíbrio intestinal.”