Estudo chama a atenção para importância dos fatores psicossociais associados à doença; paciente com fibrilação atrial precisa mudar o estilo de vida.
Insônia, depressão e acontecimentos estressantes podem aumentar o risco de mulheres pós-menopausa desenvolverem fibrilação atrial, um tipo de arritmia cardíaca. Isso é o que mostra um novo estudo feito por cientistas americanos de várias instituições, publicado no Journal of the American Heart Association.
Estima-se que cerca de uma em cada quatro mulheres vai desenvolver essa condição. Segundo médicos, fatores como a idade avançada elevam os riscos de apresentar essa arritmia. Mas a nova pesquisa mostra a influência de aspectos psicossociais nesses casos, assunto que ainda é pouco estudado.
“Mulheres na pós-menopausa são o grupo de maior risco de complicações da fibrilação e justamente elas não tinham sido bem estudadas até então”, diz a cardiologista Sofia Lagudis, do Hospital Israelita Albert Einstein.
Os autores revisaram dados de mais de 83 mil questionários do Women’s Health Initiative, um megaestudo americano em vigor desde a década de 1990, patrocinado pelo National Heart, Lung and Blood Institute. Eles tiveram acesso a informações sobre histórico médico, hábitos de vida e de sono, estresse e eventos como lutos, doenças e problemas financeiros das voluntárias. Nenhuma era portadora de arritmias no início do projeto.
Após uma década de acompanhamento, os pesquisadores observaram uma forte associação entre fatores como insônia, depressão e eventos estressantes e o desenvolvimento de fibrilação atrial. Essa correlação se mostrou independente dos fatores de risco conhecidos, como idade, hipertensão, diabetes, insuficiência cardíaca e doenças das válvulas do coração. Segundo Lagudis, essa associação provavelmente ocorre devido ao aumento dos níveis de inflamação no organismo e à ativação de vias neuro-hormonais que levam à liberação de hormônios do estresse, causando maior ativação e irritabilidade do coração.
Fatores psicossociais
“Os fatores psicossociais ainda não são estudados como deveriam, mas esse cenário deverá mudar nos próximos anos”, diz a médica. Ela lembra que eles são muito ligados entre si – por exemplo, insônia e a apneia do sono, depressão e sedentarismo, depressão e abuso de álcool.
“É comum o cardiologista se deparar com um perfil de mulher com fibrilação atrial, idosa, hipertensa, depressiva. Essa mulher em geral se cuida menos, vai menos ao médico, não segue bem a medicação recomendada. Pode ter ficado viúva, pode ter o hábito de ingerir álcool em casa. Ela precisa ser mais bem identificada e ajudada”, diz.
A fibrilação atrial é o tipo mais comum de arritmia, apresentando alta prevalência e taxa de mortalidade. Afeta aproximadamente 10% dos idosos com mais de 80 anos, mas também pode ocorrer em pessoas de qualquer idade. Essa condição pode resultar na formação de coágulos sanguíneos, causar derrames e outras complicações cardiovasculares. Além disso, é importante destacar que em mulheres, os desfechos geralmente tendem a ser menos favoráveis.
Além das causas genéticas, ela está associada a fatores ambientais e estilo de vida, como obesidade, tabagismo, sedentarismo, abuso do álcool e apneia do sono. “A fibrilação é uma arritmia amplamente modificável pelo estilo de vida. Se queremos reduzir seu risco, precisamos melhorá-lo e, após este estudo, dar também mais foco a questões de saúde mental”, finaliza.