Setores da indústria brasileira estão preocupados com a falta de clareza dos dois candidatos ao Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), em relação aos programas de governo, principalmente em relação ao tema do setor produtivo. As incertezas maiores recaem sobre o candidato do PSL, que obteve mais votos no primeiro turno.
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Antonio Megale, queixou-se, na terça-feira, 9, em Brasília, da postura da equipe do PSL. “A equipe de Bolsonaro procura mais o mercado financeiro do que o setor produtivo, principalmente o Paulo Guedes”, afirmou.
Guedes, coordenador econômico da campanha, está cotado para assumir como futuro ministro de Economia em um eventual governo. Megale também criticou a proposta dele de unificar o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic) com a Fazenda e manifestou especial preocupação com o risco de uma abertura comercial unilateral, com redução do Imposto de Importação, hoje de 35%.
Segundo Megale, a abertura comercial deve ser feita, mas por meio de acordos comerciais, como o que está sendo negociado com a Europa. Ele defende uma redução a zero do Imposto de Importação num prazo de 15 anos e carência de cinco a sete anos antes da alíquota começar a cair. Outra preocupação da indústria automobilística, que já recebeu muitos benefícios fiscais, é com a votação, até dezembro, da Medida Provisória que cria o Rota 2030, programa que incentiva a pesquisa e inovação. Se não for votada no prazo, ela caduca.
O presidente da Anfavea disse ainda que o candidato que ganhar terá de “chegar” com propostas muito bem definidas diante da “impaciência” dos eleitores, demonstrada nas urnas. “Uma coisa é fazer plano estando fora, outra é sentar na cadeira.”
Megale afirmou que o setor não vai se posicionar em relação a candidatos. Ele classificou a equipe de Bolsonaro como “mais liberal” e a de Haddad como “mais desenvolvimentista” e disse que o problema fiscal deve ser o primeiro problema a ser combatido por quem vencer as eleições.
O presidente da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), João Carlos Marchesan, também afirmou que o diálogo de Bolsonaro privilegia o mercado. “Nos ressentimos da mesma situação”, disse. “Não tivemos ainda essa interlocução e entendemos que a saída do Brasil passa não só pelo agronegócio, mas pela indústria também.”
Segundo Marchesan, o setor de máquinas não é contra a abertura comercial, mas ela tem de ser acompanhada de uma política de melhora da competitividade por meio de uma reforma tributária para reduzir impostos, reforma da Previdência e equilíbrio fiscal.
Venilton Tadini, presidente da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), também defende a abertura comercial só após ajustes de mercado para melhorar a competitividade. Isso se faz, em sua opinião, com câmbio controlado, juros baixos, redução da carga tributária e infraestrutura. “Não pode ser unilateral e feita de supetão.”
Tadini discorda, porém, da crítica à falta de diálogo por parte de Bolsonaro. “Antes do primeiro turno, o general Hamilton Mourão, vice de Bolsonaro, esteve na Abdib e falou de projetos para integração energética, logística e estrutura de transportes e ouviu nossas propostas.”
Os representantes da indústria química também estiveram duas vezes com integrantes da campanha de Bolsonaro – com Luciano de Castro, professor da Universidade de Iowa, e com o economista Carlos Alexandre da Costa. “Não se falou, em nenhuma reunião, de junção de ministérios”, disse o presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Fernando Figueiredo.
O executivo afirmou que as demandas do setor químico também foram apresentadas ao PT e que, com ambas as candidaturas, houve convergência em relação à necessidade de equilíbrio fiscal e reforma da Previdência. “A única questão é que eles não pensam em projetos setoriais, como gostaríamos”.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), José Ricardo Roriz afirma, no entanto, que também se reuniu com Guedes e Costa e que vê um grande foco de Bolsonaro em questões de infraestrutura, aumento de produtividade e redução da carga tributária. “De jeito nenhum (há um diálogo maior com o mercado financeiro)”, disse. Com a equipe de Haddad, a entidade não chegou a se reunir. “Apenas enviamos nosso material.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo