No limiar desse novo ano, pus-me a pensar se aqueles desejos de Feliz Ano Novo que recebi antes e durante o réveillon poderão se concretizar ou seriam meras utopias diante dos tempos plenos de incertezas que estamos vivenciando. Poderemos ter um ano realmente feliz, ou ficaremos como os botafoguenses saudosos de 2024?
Com isso na cabeça, levei o assunto para nossa primeira chopada deste ano da graça de dois mil e vinte e cinco, sabendo que as opiniões seriam muito diversas e sinceras, pois todos naquele grupo estão cientes que dificilmente emplacarão o ano de 2035. E a morte próxima é amicíssima da sinceridade.
Sem preâmbulos ou floreios, sem delongas, no mais puro papo reto, dividi as minhas incertezas: – E aí, amigos, o que vocês estão esperando deste ano, será um bom ano para nós, brasileiros e brasileiras?
Como era de se esperar de um grupo idoso, cheio de experiências boas e más, com bom nível cultural, mas com origens e crenças diversas, as respostas fluíram como as águas em corredeiras, rápidas e atabalhoadas, sem nenhuma organização.
Um tomou a palavra e disse não acreditar mais em nada, enquanto não se resolvesse a questão da segurança. Mas, perguntou, como acreditar nisso se há pouco dias uma reunião, promovida pelo governo federal, visando uniformizar políticas e procedimentos policiais em âmbito nacional, foi imediatamente rejeitada e politizada, sem maior discussão, por alguns governadores oposicionistas e pré-candidatos a presidente do país? E alguns governam estados líderes da violência! Um, inclusive, deu entrevista gaguejando que segurança não era problema dele. E no Congresso, a tal bancada da bala? Qual o intuito de armar a população, coisa boa não pode ser. Recentemente conseguiram, na regulamentação da Reforma Tributária, reduzir os impostos na compra de armas, assim não dá!
Refletindo a diversidade do grupo, logo um discordou, sem muita veemência, afirmando que não era bem assim. Os bandidos estavam cada vez mais ousados e, como a segurança pública não conseguia contê-los, era melhor que os cidadãos de bem tivessem armas para se defender. Mas, “cidadãos de bem”, reforçou.
Naquele momento, o Caladinho, que a cada dia faz por desmerecer o apelido, tomou a palavra e, após fazer silenciar a nossa bancada da segurança, despejou: – Tudo isso é verdade, mas ainda acho que a questão substantiva é que deixamos de ter um regime presidencialista e agimos como se ele ainda existisse. Temos um presidente, temos ministérios, é certo, mas a gestão do orçamento é do Congresso. E os congressistas estão, sem nenhum acanhamento, deixando o Brasil de lado e legislando em causa própria. Os partidos políticos somente existem para fazer jus aos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (quase 5 bilhões de reais em 2024), pois na prática foram substituídos por bancadas, tais como a já citada da bala, a da bíblia, a do agro, a do mercado financeiro, entre outras. Essas bancadas, é notório, só legislam para favorecer seus representados, e o restante da população que se dane. E claro, todos sabemos, das milionárias emendas parlamentares que odeiam a luz do sol. Podemos chamar isso de presidencialismo? É ou não é um parlamentarismo disfarçado? E sem ninguém assumir as responsabilidades de um primeiro-ministro.
A discussão tomou corpo e a balburdia venceu a organização. As falas se atropelaram. Todos falavam ao mesmo tempo. E o dólar que não para de subir? Estamos ferrados! Que nada. A turma da exportação está felicíssima com o dólar. Agora, os juros sim, preocupam. Estão altos e ainda vão subir mais, e isso trará uma puta recessão. Bobagem, quem está aplicado em renda fixa pós-fixada está querendo mais é que os juros vão para a lua. Tem gente que só vê o copo meio vazio, esses não querem ver que o desemprego nunca esteve tão baixo. E daí? Esse povo todo empregado, gastando dinheiro faz a demanda aumentar, faltar produtos, a inflação crescer e obrigar os juros subirem e corroerem os salários. Ah, então você acha que bom mesmo é aumentar o desemprego? Me poupe! Logo vai aparecer algum gênio querendo Covid para matar as “capita” e aumentar a “renda per capita”. E o déficit fiscal? O governo fez um pacotinho tímido para reduzir os custos do Estado, e os congressistas o desidrataram mais, atendendo interesses sei lá de quem. Pior, meu cara, foi que na aprovação da tão esperada Reforma Tributária, entraram jabutis, cágados, e tartarugas, mantendo ou criando isenções e privilégios. Nenhum quelônio apareceu para reduzir os benefícios concedidos a vereadores, prefeitos, deputados, senadores, ministros, juízes, desembargadores ou militares. É sempre assim. Eu sugiro entregar o comando do Brasil aos analistas políticos das TVs fechadas que, diariamente, cheios de arrogância, ensinam como as autoridades devem fazer para resolver todos os problemas do nosso país. Ah, com isso eu concordo. E os economistas? Erraram grosseiramente ao dizer que o crescimento do PIB que foi de 3,5%, em 2024, não passaria de 1,5%, e agora já se arvoram a prever os índices econômicos para – pasmem! – DEZEMBRO DE 2026. Ah, esse pessimismo do mercado financeiro sempre existirá enquanto não colocarem um deles no Ministério da Fazenda. Com que cara os arautos do pessimismo ficarão quando o déficit fiscal do ano passado for divulgado oficialmente? Será perto de 0,1% do PIB, portanto inferior ao limite de 0,25% permitido pelo arcabouço fiscal? E daí, qual a vantagem? O correto seria não ter déficit nenhum. Será que o governo não está manipulando esses números? E o Trump? Não esqueçam que o Trump ainda vai nos libertar dessa ditadura do STF.
As vozes estavam se alterando pelo calor da discussão ou pelo excesso de bebida, quiçá de ambos. Assim, resolvi dar um basta na discussão pois já tinha a resposta que procurava: 2025 será um ano como foi aquela discussão. Cheio de contradições, de interpretações diversas, algumas plenas de tecnicismo e outras prenhes de ideologias inconciliáveis.
Caberá a cada um de nós ter a sabedoria necessária para conviver com tudo isso, depurando os números, os índices, os acontecimentos e as versões, e usufruindo daquilo que se nos parecer melhor.
Por: Alfeu Valença – Original do Portal Tempo Real