Há alguns dias uma mãe, orgulhosamente, me telefonou pra contar que seu filho, artista plástico em Viena, na Áustria, foi convidado para palestrar no Massachusetts Institute of Technology (MIT), em Boston, sobre “Espaços negativos na hiper-realidade da estética de consumo”. Durante a conversa ela confessou que a sua alegria só não era maior porque que não tinha a menor ideia do significado de espaços negativos, nem hiper-realidade. Vamos tentar ajudá-la.
A origem do conceito de espaços negativos remonta a disciplinas como artes visuais, design gráfico e arquitetura. Ele é amplamente atribuído ao trabalho de artistas, designers e teóricos que exploraram a importância dos vazios e das lacunas em uma composição. No contexto da arte e do design, espaços negativos são as áreas ao redor e entre os objetos principais de uma obra, que ajudam a definir e destacar esses objetos. Um dos primeiros a explorar esse conceito foi o pintor francês Henri Matisse, famoso por suas colagens e uso audacioso de cores e formas. Matisse entendia que o que não está representado explicitamente em uma obra pode ser tão poderoso quanto o que está.
O conceito de espaços negativos evoluiu e encontrou novas aplicações na estética de consumo, especialmente na era da hiper-realidade. A hiper-realidade é um termo cunhado pelo filósofo e sociólogo francês Jean Baudrillard. Ele descreve um estado em que a realidade e a ficção se misturam, criando uma “realidade ampliada” que muitas vezes é mais convincente e atraente do que o mundo real.
Na hiper-realidade, o que não está lá é tão importante quanto o que está, porque a ausência também comunica e seduz.
No design de interiores, por exemplo, o espaço negativo — aquelas áreas “vazias” em um ambiente — é uma poderosa ferramenta, valorizando o que não existe, e criando uma sensação de amplitude e destaque para os objetos que realmente importam.
Os espaços negativos na hiper-realidade da estética de consumo desempenham um papel crucial na criação dessa ilusão. Eles funcionam como elementos de ausência que, paradoxalmente, carregam um peso significativo. Em uma sociedade saturada de imagens e informações, o vazio ou a lacuna pode servir como um respiro, uma pausa visual que captura a atenção do observador de maneira sutil, mas eficaz.
Esses espaços vazios estimulam a imaginação e o desejo, permitindo que o consumidor preencha as lacunas com suas próprias aspirações e sonhos. Dessa forma, a ausência se torna uma presença poderosa, pois o que não é mostrado ou dito explicitamente pode ser interpretado de maneiras diversas e pessoais pelo espectador.
A publicidade e o design de produtos de luxo utilizam frequentemente esses princípios, criando campanhas que destacam a exclusividade e o desejo através do minimalismo e da simplicidade. Criam aqueles anúncios de luxo onde menos é mais: um fundo branco, um produto bem no centro e nada mais. Esses espaços criam uma sensação de desejo e exclusividade, porque não revelam tudo, mas instigam a imaginação. É clássica a publicidade da Apple, que frequentemente utiliza fundos brancos limpos e foco nos produtos, com muito espaço ao redor. Isso não apenas destaca o design elegante dos produtos, mas também sugere um estilo de vida simplificado e sofisticado, no qual a tecnologia se integra perfeitamente sem dominar.
Em suma, os espaços negativos na hiper-realidade da estética de consumo são elementos fundamentais na criação de uma narrativa e uma imagem que transcendem a realidade cotidiana. Eles aproveitam a ausência e o vazio como ferramentas para capturar a atenção, estimular a imaginação e promover o desejo.
Rio, 2025
Por: Alfeu Valença – Original do Portal Tempo Real