Uma das entidades investigadas pela Polícia Federal por fraudes em descontos de aposentadorias do INSS contratou, quatro meses antes da operação, o escritório do filho do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski. O Centro de Estudos dos Benefícios dos Aposentados e Pensionistas (Cebap) firmou contrato de R$ 600 mil com Enrique Lewandowski para atuar junto a órgãos do próprio governo, incluindo a Senacon, vinculada ao ministério do pai do advogado.
O contrato previa “representação institucional” do Cebap em reuniões com INSS, CGU, TCU, Senacon e até a Polícia Federal, com o objetivo de evitar o fim do convênio que permitia os descontos nas aposentadorias. Segundo o documento obtido no computador de ex-diretores da entidade, Enrique receberia R$ 50 mil por mês. A assessoria do ministro afirmou que o escritório “nunca atuou no Ministério da Justiça”.
O Cebap, ligado ao empresário Maurício Camisotti, foi alvo de mandado de busca na operação da quarta-feira (23), que apura um esquema de até R$ 6,3 bilhões. Habilitada no fim do governo Bolsonaro, a entidade disparou sua receita com mensalidades associativas descontadas diretamente da folha dos aposentados, chegando a quase R$ 10 milhões por mês em menos de um ano.
Após a operação, o Ministério da Previdência suspendeu todos os acordos com entidades como o Cebap e prometeu devolver os valores descontados em abril. Já os descontos anteriores serão analisados pela AGU. Ex-dirigentes do Cebap passaram a colaborar com as investigações e apontam que a entidade usava filiações simuladas para fraudar os benefícios, como já indicavam auditorias do TCU e da CGU desde 2023.