Na semana passada desenvolvemos o tema dos ecossistemas afetivos. Vimos que somos biodiversos: cada ser humano é habitado por uma biodiversidade enorme. Possuímos seres-indivíduos que fazem parte de nosso corpo, tais como bactérias, germes e outros seres. Sem estes a nossa vida não existiria. Daí poderemos dizer que somos um ecossistema que é composto pela biodiversidade, pela diversidade de seres-indivíduos de diferentes naturezas.
Poderíamos dizer que a vida nas cidades formaria ecossistemas sociais? Será que as diferenças entre as culturas, entre as religiões, entre os modos de vida totalmente diferentes, poderiam constituir ecossistemas heterogêneos, modos de vida heteróclitos que podem se combinar, podem se compor, podem se unir como um imenso ecossistema afetivo social?
Estas questões nos levam a pensar a vida complexa da cidade, seus desafios, seus impasses, suas invenções. Já há muito tempo trabalho com a questão da biodiversidade social e as suas composições na vida da cidade.
A vida da cidade é feita por segmentações. Ir de um ponto ao outro na cidade para se fazer alguma coisa; ir de uma instituição à outra para cumprir alguma questão; ir de casa ao trabalho; do trabalho para o supermercado; de um ponto ao outro vamos construindo nossas maneiras de estar na cidade.
De pouco a pouco vamos construindo arquiteturas afetivas, arquiteturas emocionais cronificadas, repetitivas, a partir da vida repetitiva feita pelos modos como nos relacionamos com a vida da cidade. Muitas vezes nos distanciamos de outros ecossistemas sociais-culturais por nosso modo de vida e pelos nossos valores e crenças.
Uma cidade é cheia de gentes, de experiências, de modos de ser completamente diferentes. Uma cidade tem tantas faces, quantas são as das pessoas que, nela mesma, habitam. Daí pensar a cidade composta como uma partitura musical com suas tensões, com suas harmonias, com suas melodias em contrapontos. Se cada pessoa é um ecossistema, como cada pessoa poderá tocar, afetar uma outra pessoa para formar um ecossistema afetivo mais complexo? Como será reunir pessoas de culturas, religiões, classes sociais diferentes?
Como será agregar e compor suas imaginações, suas ideias, suas maneiras singulares de ver e sentir a vida? Como será imaginar a possibilidade de uma composição da biodiversidade social, da diversidade dos modos de vida da cidade, reunidos como um só corpo, uma só mente, compondo um ecossistema afetivo social? Como poderíamos imaginar a constituição deste corpo coletivo para a composição de sinfonias de ideias, de sentimentos e suas imaginações criativas e criadoras para se pensar a vida da cidade?
Estas questões nos levam à questão da vida social, de suas implicações como um corpo sensível e afetivo em pura composição. Os mundos completamente diferentes e distintos podendo utilizar a capacidade de reunir suas imaginações e suas sensibilidades para compor sinfonias de ideias e soluções para os impasses da vida da cidade. Assim, poderíamos compor o ecossistema afetivo social.
Um ecossistema onde as capacidades de composição de desejos formam e escrevem a partir das questões que tocam a todos uma sinfonia complexa de criações e saídas. Ecossistema constituído pela biodiversidade social-cultural. Ecossistema afetivo onde as potências e capacidades de afetação entre cada pessoa que compõe a biodiversidade social poderá aumentar, pois, a abertura de cada mundo, de cada pessoa, poderá aumentar o grau de união, de proximidade entre as diferenças.
Grande abraço,
Paulo-de-Tarso