A morte do músico Dulcilano Pereira, conhecido no mundo artístico como Macaé, causa tristeza nos macaenses
Faleceu na manhã desta quinta-feira (18) o consagrado Maestro Dulcilano Pereira, conhecido com o nome artístico de Macaé. Aos 82 anos de idade, o macaense morreu vítima de câncer de próstata, tendo lutando contra esse mal durante os últimos meses de vida. Após se aposentar, o músico residiu por alguns anos em Macaé, até descobrir a doença, há cerca de um ano, quando se mudou para a cidade do Rio de janeiro, onde se submeteu ao tratamento, fazendo inclusive a quimioterapia.
Este último mês ele estava internado em hospital, onde não resistiu as complicações e acabou falecendo. Considerado um dos grandes saxofonistas brasileiros da atualidade, segundo a vontade da família o corpo está sendo transladado para Macaé, para ser sepultado no Cemitério de Sant’Anna, rito que contará com a presença de familiares e amigos.
O teatrólogo e professor Ricardo Meirelles fala sobre o significado de sua morte para Macaé. “A perda do maestro Macaé, Dulcilano, reflete não só em nossa cidade, mas no mundo musical brasileiro. Toda sua família é constituída de grandes músicos. Ele foi o expoente maior, gravando com grandes cantores e compositores brasileiros, como Chico Buarque de Holanda. No momento de grandes dificuldades e tristeza em que estamos passando a saída de cena desse grande maestro é uma perda irreparável. Saudades”, declarou Ricardo.
Também consternado, o pianista Paulo Lima ressalta o seu talento e a tristeza de sua morte. “Dulcilando Pereira, mais conhecido no meio artístico como Maestro Macaé, nos deixa menos alegres com sua partida. Digo isto porque nosso convívio com esse grande músico foi sempre de muita alegria. Seu olhar simples de ver a vida se contrasta com a genialidade musical. Tive a sorte de conviver com ele em boa parte dessa estrada.. Ele sempre me pedia para tocar pra ele no piano “Clair de Lune”, e era fã de Claude Debussy. Ao Maestro, saxofonista e genial arranjador, deixo a frase de Da Vinci que muito tem a ver com ele: “A simplicidade é o mais alto grau da sofisticação”. Parabéns, Maestro!”, disse Paulo Lima.
Maestro Macaé, Dulcilando Pereira, músico, nascido em Macaé, em 1938 era saxofonista, arranjador e professor, sendo autor de cerca de quatrocentos arranjos do marcial e sanfônico da Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro. Na música popular, foi considerado um dos mais expressivos músicos brasileiros em seu instrumento, o sax-tenor, ganhando destaque como intérprete e arranjador em grandes formações orquestradas, como Orquestra Tabajara, a Banda Veneno, liderada por Erlon do Maestro Cipó* e a Rio Jazz Orchestra, além de ter participado de inúmeras e importantes gravações. No campo de pesquisa, teve experiência no Laboratório de Sons Musicais, que é uma experiência que permite a extração de variados timbres de instrumento de sopro, em efeitos sonoros idênticos aos sons de corda de uma orquestra sinfônica.
A trajetória do músico
Vindo de uma família de músicos, seu pai Licínio tocava cordas e o tio Onofre Pereira saxofonista, Dulcilano Pereira desde cedo respirava música. Aos 5 anos de idade, em um concurso musical, fez sucesso tocando uma minúscula flauta de brinquedo que impressionou a todos. A música era tão presente na veia da família que não só ele mas também seus irmãos, Dirceu Pereira, contrabaixista e guitarrista conhecido como Ceceu e Vanderley Pereira, que hoje é baterista em Nova York onde mora há alguns anos.
Ele iniciou seus estudos na Sociedade Musical Nova Aurora, banda da qual fez parte em sua mocidade. Fazia muitos bailes nos clubes macaenses junto com um maravilhoso time de músicos que por anos encheu de brilho as noites macaenses.
Saindo de Macaé fez prova para o Corpo de Bombeiros no Rio de Janeiro, passou com sucesso e lá ficou sendo maestro e arranjador até se aposentar. Em paralelo ao seu trabalho sempre se apresentava nas noites cariocas com o seu saxofone e por sua virtuosidade já ganhara o apelido de Macaé, o que marcava sua origem e o tornara conhecido e respeitado.
Durante sua carreira tocou com a fina flor da musica brasileira, com seus iguais maestro Cipó, Herlon Chaves, Moacir Santos e o maestro Severino Araujo da inesquecível Orquestra Tabajara. Participou em shows com Chico Buarque, Simone, Vando, Sivuca, João Donato e a cantora americana Sara Vaughan, Bibi Ferreira, Moraes Moreira e muitos outros, e como não podia faltar, Roberto Carlos.
Todos que conhecem a figura carismática de Dulcilando Pereira e ouviram e dançaram ao som mágico de seu saxofone nas noites macaenses certamente lamentam a sua partida. Mas seu saxofone ficará sempre na memória do seu público, dignificando o talento dos filhos de nossa terra. “Ainda bem que temos a tecnologia da informática em nossas mãos para podermos ouvir, sempre uma vez mais, o maravilhoso solo de saxofone de Dulcilando Pereira em “Manhã de carnaval” de Luis Bonfá, em uma apresentação da Orquestra Tabajara”, disseram os seus primos Jussara e Fernando Pereira, que colaboram com esta matéria.
O Diretor de O DEBATE, jornalista Oscar Pires, cujo pai também era músico da Sociedade Musical Beneficente Nova Auroro, lembra dos memoráveis encontros com Dulcilano, com quem chegou a participar do aprendizado mas preferiu outro caminho. “Lembro ter participado, na década de 80, quando a casa de shows Asa Branca, na Lapa, era ponto de encontro de grandes figuras do mundo artístico, de uma apresentação da Orquestra Tabajara e, ao cumprimentar Dulcilano na pista de dança, ele me honrou com o convite para jantar após a apresentação. Momentos importantes da minha vida, inesquecível, lembrar de um encontro tão emocionante, ainda vivo em minha memória”, disse.
Macaé perde mais uma das suas figuras ilustres no mundo artístico e que deixa saudades para os mais antigos que frequentaram o Tênis Clube e a boate do Ypiranga, dançando ao som de boas orquestras como a de Tinho ou Salvador Pessanha, tendo Dulcilano Pereira no grupo dos talentos.