Preço, no entanto, deve continuar alto no curto prazo com cortes da Opep+ e incertezas geopolíticas, segundo Citi e hEDGEpoint Global Markets

RIO – A demanda por petróleo já começou a sentir efeitos estruturais da transição para energias de baixo carbono, com impactos sobretudo no consumo global de combustíveis para transporte, apontam analistas ouvidos pela agência epbr.

Entretanto, os preços ainda demoram para refletir esse cenário, por causa dos esforços da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) para restringir a oferta e das incertezas geopolíticas causadas pelos conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio. A partir do fim deste ano, há expectativa de queda nas cotações.

O Citi estima que a demanda global este ano deve começar a desacelerar. A projeção é um aumento de 1,3 milhão de barris por dia (bpd), abaixo do crescimento de 1,9 milhão de bpd em 2023. Para 2025, a previsão é ainda menor, entre 700 mil e 1 milhão de bpd.

Segundo o estrategista de commodities do banco, Eric Lee, o mercado de petróleo vai sentir impactos sobretudo do aumento do uso de veículos elétricos e híbridos, biodiesel, diesel renovável e combustíveis sustentáveis de aviação (SAF, na sigla em inglês). Por isso, aponta, a tendência é que a demanda não consiga mais acompanhar o aumento no suprimento global.


“Ainda vemos muito risco geopolítico para o mercado de petróleo nesse momento. Isso pode levar a picos nos preços, mas a direção é de queda ao longo do tempo, porque o fornecimento está crescendo mais rápido do que a demanda e a Opep+ ainda tem muita capacidade ociosa”, disse à epbr.

China desce, Índia sobe

Lee ressalta que, depois da pandemia de covid-19, o aumento do consumo por derivados tem se mantido alto na comparação anual, mas que isso não significa volumes robustos.

“Em níveis absolutos, apenas agora estamos retornando aos níveis de consumo de 2019, logo antes da pandemia. Perdemos anos de crescimento na demanda”, afirmou.

Um sinal das alterações no mercado é a redução no crescimento da demanda da China, segundo país no ranking do consumo mundial de petróleo, atrás apenas dos Estados Unidos. A China foi um dos últimos países a liberar restrições à circulação para combater a pandemia, por isso os impactos da recuperação na demanda ainda estão em curso.


Para o analista de energia da hEDGEpoint Global Markets, Victor Arduin, o consumo chinês vai seguir alto, mas o potencial de aumento está menor.

“Acho que a China vai continuar frustrando análises que colocam muita esperança num forte aumento de consumo, porque está fazendo uma mudança na matriz energética e, consequentemente, a demanda por produtos refinados vai cair”, disse em apresentação sobre as perspectivas do mercado, na terça-feira (27/2).

Com isso, o principal polo de crescimento do consumo de combustíveis líquidos nos próximos anos deve passar a ser a Índia. “É interessante olhar para a Índia para observar para onde está indo o crescimento energético no mundo”, acrescentou.

Tendência de alta no curto prazo

Apesar das alterações estruturais no mercado, a hEDGEpoint estima que os preços dos derivados de petróleo têm viés de alta nos próximos meses, por causa dos baixos estoques e da interrupção em refinarias nos Estados Unidos no começo deste ano.


Quedas na atividade de refino nos Estados Unidos por causa das baixas temperaturas registradas em janeiro levaram a uma menor produção de gasolina.

“Há menos formação de estoque do que seria esperado para essa época do ano”, disse Arduin.

A combinação de baixos estoques com um possível aumento na demanda tende a levar a um aumento nos preços. Para o analista, os bons indicadores econômicos nos EUA, como o baixo desemprego, podem levar a um consumo de gasolina maior do que o esperado durante a driving season, no verão, quando há um aumento das viagens. Uma possível queda nos juros no país no segundo semestre também tende a estimular a demanda, aponta.

O cenário é similar para o diesel, que tem estoques baixos não apenas nos Estados Unidos, como também na Europa. Com a invasão à Ucrânia e as sanções à Rússia, os europeus ampliaram o uso de derivados de diesel em substituição ao gás natural.

Por EPBR