OPINIÃO

Outro dia, o nosso papo tranquilo no chope semanal foi interrompido por uma discussão acalorada na mesa vizinha, onde um bêbado berrava que o mal do Brasil eram os políticos. “Todos ladrões, incompetentes ou corruptos”, dizia, sem nenhum eco das mesas vizinhas ou dos seus companheiros de mesa. Talvez decepcionado pela falta de apoio ou oposição, ele se levantou e saiu do bar, no que foi acompanhado pelos seus pares.Depois que eles saíram, o assunto caiu na nossa mesa, com a pergunta do Caladinho: “E aí, amigos, o nosso vizinho está certo no seu diagnóstico?” A pergunta ficou no ar e, aos poucos, as opiniões foram sendo emitidas sobre a recorrente conversa sobre a má qualidade dos nossos políticos. E, incrivelmente, pela primeira vez, aquela mesa de velhos amigos chegou a uma conclusão com unanimidade. E agora, contrariando o grande Nelson Rodrigues, pareceu-me uma unanimidade inteligente.É comum ouvirmos nos mais diversos ambientes, dos mais sofisticados aos mais populares, a afirmação de que o Brasil jamais progredirá como desejamos por conta do despreparo, ou desonestidade, dos nossos representantes. Escutamos isso há muitas dezenas de anos e frequentemente ouvimos citações da fala de Ulisses Guimarães “não reclamem da qualidade do Congresso atual, porque o próximo será muito pior”.Grande e visionário Ulisses! Ele teria dito isso há mais de 30 anos e, considerando o número de eleições já ocorridas, é possível imaginar o enorme volume das pioras acumuladas de lá para cá. Eu costumo dizer que não é justo reclamar dos políticos, posto que vivemos um sólido regime democrático e, portanto, eles foram eleitos por nós através de votos livres. Nenhum deles entrou no Congresso pulando janelas ou muros. Estão lá porque nós os colocamos lá. E como muitos já foram reeleitos várias vezes não podemos nem usar a desculpa de que fomos enganados, que não os conhecemos. E por que os elegemos? Por desleixo, irresponsabilidade ou interesses escusos? Ou por que eles realmente nos representam, por sermos assim e é assim que é a nossa sociedade?

A surpresa que nos atingiu foi a rapidez com que os participantes do chope daquela tarde concordaram e apoiaram a minha posição. Assim, a certeza que emergiu da nossa discussão foi que se temos que culpar alguém pelas péssimas administrações executivas e parlamentares do nosso Brasil, culpemos a nós mesmos, eleitores. Afinal, o voto é livre e secreto e se votamos em políticos incompetentes, desonestos ou ingênuos, temos que assumir a culpa. Se votamos em troca de alguma vantagem financeira, empregatícia, retribuindo favores pessoais, ou por puro puxa-saquismo, a culpa é inteiramente nossa. Se votamos errados por falta de informações que não procuramos, ou se contribuímos com a abstenção eleitoral trocando a urna pela praia, a irresponsabilidade cairá na nossa conta e sofreremos por ela.Concluímos que, sem absolver nossos políticos, a maior culpa pelos desmandos e más administrações é nossa. Não adianta acusar os políticos. Nós, o povo brasileiro, é que os escolhemos utilizando à farta o nosso livre-arbítrio.Por tudo isso, achei interessante uma sugestão que ouvi ou li em algum lugar – a velhice explica – dizendo para, nestes tempos de Inteligência Artificial, começarmos a escolher os nossos candidatos utilizando algum algoritmo das eleições escandinavas.

Por: Alfeu ValençaEx-presidente da Petrobrás e fundador da CONPET Consultoria e Engenharia de Petróleo.Alfeu assina a coluna no site https://temporealrj.com/alfeu/