Conhecer os afetos

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Conhecer lugares onde podemos desfrutar novas sensações. Conhecer lugares, talvez, nunca conhecidos por nós. Esta experiência nos alimenta de novas paisagens afetivas. As imagens desta viagem ficarão guardada em nossas memórias. Assim como as imagens de viagens feitas há muito tempo atrás. Estas também ficaram guardadas em nossas memórias. Assim como as imagens de pessoas com que tivemos muitos momentos maravilhosos.

Guardamos em nós as imagens de nossos encontros. Somos feitos de encontros. Nossos modos de ser foram, de alguma maneira, feitos daquilo que guardamos dos nossos encontros. Poderemos ir para muitos lugares. No entanto, guardamos em nós, através dos nossos encontros diários, muitas impressões daquilo que vivemos cotidianamente. Somos colecionadores de encontros!

E na experiência de colecionar encontros, passamos a nos ver e a compreender como guardamos tantas partes e formas de ser dos outros em nós! Quando menos esperamos, expressamos um modo de ser que é tão de uma outra pessoa. Numa dada situação, nosso modo de falar, as palavras que saem de nossas bocas são aquelas que ouvimos e presenciamos num encontro anterior. Vivemos a experiência dos mimetismos afetivos de forma inconsciente! Esta experiência de imitar por afeto é descrita pelo filósofo Spinoza no seu livro intitulado “Ética”. De forma inconsciente somos afetados pelos modos de ser de uma outra pessoa e, através da experiência das ressonâncias afetivas, guardamos em nós as impressões deste encontro. A emoção que acompanha a experiência vivida com a outra pessoa faz registrar o conteúdo, o que foi dito, a maneira como foi dito, o modo de ser da outra pessoa. Toda esta experiência mimética é feita de forma inconsciente e não temos controle sobre ela. Assim, os filhos acabam por ter tanto o jeito dos seus pais. Os amigos passam a falar e a expressar os modos e maneiras dos seus outros amigos. Uma pessoa na internet pode, por sua vez, colecionar modos de ser de algo que ela acompanha regularmente nos sites e ambientes de relacionamento. Somos colecionadores de modos de ser!

Da mesma forma na experiência de viajar para muitos lugares, pois através dela podemos guardar tantas imagens, a experiência de se encontrar com outras pessoas [mesmo na internet] nos faz guardar tantas imagens, tantas sensações, tantas maneiras de ser. O que faz a liga, o que faz a “cola” entre as imagens de uma viagem e entre as imagens, palavras e modos de ser de uma outra pessoa para que as guardemos, são as emoções. Tudo que tiver alguma força afetiva, no sentido spinozista do termo, ou seja, tenha poder de afetação sobre nós, será guardado em nossa memória! Tudo que nos afetar com alguma carga afetiva [vitalizadora ou não] poderá ficar guardado em nós para ser ativado em outros momentos!

Os perfumes, a imagem de um lugar, alguma situação corriqueira do dia a dia poderá ser o sinal que ativará as memórias mais guardadas em nós. Aqui começa uma outra viagem: a de conhecer como somos afetados, como somos tocados nas experiências que vivemos! Conhecer como somos afetados e somos tocados nas experiências de vida será conhecer as nossas capacidades afetivas, ou seja, o que podemos numa dada situação e aquilo que não podemos.

Decorre daí que a experiência de conhecer a si será conhecer quais são as capacidades de se ligar às outras pessoas, de não lidar com determinadas situações e com determinados modos de ser que nos tocam, possam afetar, aumentando a vitalidade ou, mesmo, diminuindo!

Conhecer a si mesmo através das capacidades afetivas! Este é o trabalho que desenvolvo terapeuticamente com as pessoas! Entre em contato: paulo.tarso.peixoto@gmail.com.