Um estudo de pesquisadores da Fiocruz e da Universidade de Columbia identificou resultados promissores em uma combinação de medicamentos antivirais no tratamento da Covid-19.

Os cientistas demonstraram que há sinergia entre substâncias que inibem as enzimas que permitem que o Sars-CoV-2 se multiplique com mais eficiência e que, juntos, os remédios podem diminuir a replicação do vírus em dez vezes mais do que separadamente. 

Divulgado em 22 de fevereiro na Communications Biology, uma publicação da Nature, o estudo apontou que os inibidores da polimerase e da exonuclease, quando combinados, trabalham juntos para bloquear a capacidade do vírus se reproduzir nas células infectadas. 

“Nós estudamos inibidores de uma enzima essencial para a biologia do Sars-CoV-2, a exonuclease, que permite maior estabilidade genética ao vírus e o ajuda a selecionar variantes virais, como aquelas que escapam da respostas imunes do organismo, por exemplo. A exonuclease seleciona o conjunto genético mais abundante do vírus e permite que cópias desse conjunto sejam replicadas, isso tudo em cooperação com outra enzima, a polimerase”, explica um dos coordenadores do estudo, Thiago Moreno L. Souza, pesquisador do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz).

Para compreender formas de combater esses mecanismos, Souza e a equipe desenvolveram um estudo de modelagem computacional, enzimático e celular, que mostraram que um grupo de moléculas aprovadas para tratar Hepatite C também consegue inibir a exonuclease do novo coronavírus. Eles identificaram, entretanto, que essa ação não ocorre em uma concentração ideal para combater o Sars-CoV-2. “Essas moléculas atuam em uma diferença de mil vezes de potência, sendo muito mais potente contra o vírus da Hepatite C”, pontua o pesquisador.

Os pesquisadores então se voltaram para as combinações de moléculas que pudessem trazer resultados mais eficientes. Nesse caso, os inibidores de polimerase – como o Remdesivir, aprovado pela Anvisa e pela FDA para tratar Covid-19, mas ainda com eficácia clínica limitada. “Ao combinarmos os medicamentos que já era conhecidos inibidores da RNA polimerase com as substâncias reposicionadas para bloquear a exonuclease, tivemos resultados promissores que merecem investigações aprofundadas do ponto de vista clínico”, ressalta Souza. 

Mecanismos do vírus

Ao multiplicar o genoma viral, a RNA polimerase pode introduzir erros que deixariam o novo vírus menos eficiente no seu processo replicativo. A exonuclease faz  uma revisão da sequência genética do vírus. Dentre os principais vírus de RNA de importância biomédica, os coronavírus  são os únicos que têm a exonuclease. Sua atividade é necessária para reduzir o número de mutações e, assim, manter a integridade e a função de seus genomas de RNA. 

O estudo teve êxito ao inibir a função de replicação do vírus e a de revisão da replicação, obtendo maior sucesso no combate ao vírus. Agora, os pesquisadores investigam se suas descobertas podem ser demonstradas em um modelo animal. Se forem, o estudo poderá seguir para ensaios clínicos, já que os medicamentos estudados são aprovados para tratar outras infecções. 

O estudo foi conduzido e coordenado por pesquisadores da Columbia Chemical Engineering e do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/ Fiocruz). Também participam da pesquisa o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), o Memorial Sloan Kettering Cancer Center e a Rockefeller University.

Por Portal Novo Norte