Colunista de O Globo também condenou poderio político de Alexandre de Moraes
“Recato à brasileira” foi o irônico título pensado pelo colunista Merval Pereira, do jornal O Globo, em seu artigo publicado neste domingo (28), para tratar da devassidão ética e moral que desmoraliza Brasília e, imediatamente, o Brasil.
A crônica aborda, inicialmente, o churrasco intimista promovido pelo presidente Lula (PT), nesta sexta-feira (26), para nutrir os estreitos laços com quem jamais poderia estar ali, sob pena de macular a legitimidade e idoneidade indispensáveis para o exercício de suas funções: os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, além de Ricardo Lewandowski, já aposentado do tribunal.
– (…) Não causou espanto pela frequência com que ministros do Supremo se encontram em Brasília com políticos, advogados e empresários em reuniões informais, mesmo quando esses respondem a algum processo que está ou poderá estar em votação no STF – observou Merval.
O jornalista ressaltou que um dos temas do churrasco “era como enfrentar a rebelião no Congresso que esvaziou a política ambiental do governo”. E evidenciou mais uma incoerência por parte de ministros, que afrontam sem qualquer parcimônia a liturgia do cargo e sem que haja, a eles, qualquer constrangimento.
– O caso (do esvaziamento da política ambiental do governo pelo Congresso) pode parar no Supremo, mas essa possibilidade não inibiu os ministros – criticou Pereira.
O cronista classificou esse comportamento dos que exercem atividade judicante e, portanto, deveriam se abster de frequentar ocasiões perigosas para o exercício ilibado da magistratura, como “promiscuidade brasiliense”, e traçou um paralelo com episódios semelhantes ocorridos, esporadicamente, em outras nações, como nos Estados Unidos, por exemplo.
– O ministro Alexandre de Moraes é o novo poderoso de Brasília, com o destaque que tem tido suas ações, muitas vezes contestadas, mas indubitavelmente relevantes para a defesa da democracia – disse Merval, revelando-se simpático à proeminência de Moraes e suas excrescências, que – no seu entender – cumpre finalidade democrática.
– (Moraes) Movimentou-se para que as duas vagas abertas no Tribunal fossem preenchidas por indicações suas, o que aconteceu em tempo recorde. Num dia, Moraes teve um almoço com o presidente Lula, no dia seguinte os dois advogados estavam nomeados. Moraes agora controla totalmente o plenário do TSE, o que o transforma em um poderoso partícipe do jogo político de Brasília – disse o colunista, evidenciando que as ambições políticas do ministro vão muito além da mera atividade judicante.
Retratando o expressivo poderio de Alexandre de Moraes em seus empreendimentos pessoais, Merval afirma que a cassação do mandato de deputado federal do ex-procurador da Lava Jato, Deltan Dallagnol, foi uma determinação dele, o atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
– Antes mesmo de ter conseguido nomear dois advogados ligados a ele, Alexandre de Moraes já conseguira a condenação, por unanimidade, do ex-promotor da Lava-Jato Deltan Dallagnol, que perdeu seu mandato de deputado federal no TSE. Além do voto de relator, os demais ministros levaram cerca de 1 minuto para condená-lo, votação tida como articulada por Alexandre de Moraes, que queria uma decisão sem dissidências para fortalecer o tribunal. Pelo menos um ministro garantiu a Dallagnol que votaria a seu favor, mas mudou de ideia.
Por portal Novo Norte