“O Brasil é o Brasil”. Com essa frase, o presidente do Chile, Sebastião Piñera, resumiu o interesse nas eleições no Brasil e, em particular, pelo presidente eleito Jair Bolsonaro. Um dos primeiros diálogos internacionais de Bolsonaro foi com o presidente chileno, e se concentrou em priorizar os corredores bioceânicos (os que excluem a Bolívia). Na conversa telefônica, discutiram a possível visita de Bolsonaro ao Chile como presidente eleito, que seria o primeiro compromisso internacional, com viagem aos Estados Unidos na sequência.
A eventual aprovação do Tratado Transatlântico (TCL) entre os dois países é uma questão estratégica: priorizar a construção de um corredor bioceânico entre o porto de Santos, no Atlântico, e o litoral chileno, no Pacífico. Trata-se de um caminho fundamental para as rotas comerciais globais, com redução de tempo de viagem estimado no transporte comercial entre a Ásia e o Brasil em até três semanas. Além do Brasil e do Chile, passaria através do território paraguaio e argentino.
Outro sinal ligou alarmes na Argentina, quando Paulo Guedes, homem forte de Bolsonaro, questionou o bloco econômico do Mercosul: “O Mercosul é muito restrito ao que estamos pensando quando foi criado, totalmente ideológico, o Brasil era um prisioneiro de alianças ideológicas, e isso é ruim para a economia … O Mercosul não é uma prioridade’’. O chanceler argentino Jorge Faurie disse: “Não importa para onde vai, mas o grau de integração e diálogo que os governos têm”. O embaixador argentino no Brasil, Carlos Magariños, relativizou as declarações de Paulo Guedes: “Acho que temos que colocar a relação entre Argentina e Brasil em perspectiva. A relação bilateral é anterior ao Mercosul e permanecerá dentro do Mercosul e além dos ajustes propostos por qualquer um dos integrantes”, e concluiu: “Não imagino o fim do Mercosul de maneira alguma”.
Por outro lado, Trump afirma que os EUA irão colaborar estreitamente em questões “comerciais e militares” com Bolsonaro, o que mostra uma abertura importante do governo americano, onde as relações serão intensificadas na área comercial, possivelmente com um futuro TCL. O mais importante deste contato está na área bélica, onde o Brasil vai poder modernizar o atual poder militar, fator importante para enfrentar os riscos geopolíticos na América Latina, como o terrorismo e o narcotráfico. A nova política liberal econômica a ser implementada será um horizonte por onde a política externa vai atuar, pois uma política econômica de abertura comercial precisa de uma diplomacia comercial intensa dentro das complexidades apresentadas pela geopolítica de interesses comerciais e militares ao nível global.
* René Berardi é Professor do ISAE Escola de Negócios, doutor em Sociologia (UFPR), com experiências como executivo e consultor na OEA, Petrobras, Hewlett Packard, SEBRAE e AGA Gases.