Trabalho do Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty) junto a autoridades francesas viabilizou o retorno de quase duas toneladas de peças de grande valor científico ao Geoparque Araripe. Ministro da Cidadania representou o Governo Federal em cerimônia que marcou início das remessas
Um carregamento de 998 fósseis roubados em 2013 começa a fazer o caminho de volta para o Brasil. Resultado de intenso trabalho de cooperação de mais de oito anos entre profissionais do Ministério das Relações Exteriores do Brasil (Itamaraty) e do corpo diplomático francês, o material recuperado tem quase duas toneladas. Inclui fósseis de peixes, insetos, aves, plantas e até pterossauros, répteis voadores que viveram há mais de 100 milhões de anos na região onde hoje é a bacia do Araripe, no Ceará.
É com grande satisfação que o Governo Brasileiro recebe esses 998 fósseis contrabandeados do Geoparque Araripe. Desde 2013 há um trabalho do nosso corpo diplomático para conseguir a repatriação deste material, que se constitui em um patrimônio cultural e histórico do povo brasileiro”
O ministro da Cidadania, Ronaldo Bento, que cumpre uma série de agendas oficiais na França em tornos de eventos ligados ao esporte e ao desenvolvimento social, representou o Governo Federal Brasileiro na cerimônia que marcou o início das remessas ao país nesta terça-feira (24.05), em Le Havre, a cerca de 200 quilômetros de Paris.
“É com grande satisfação que o Governo Brasileiro recebe esses 998 fósseis contrabandeados do Geoparque Araripe. Desde 2013 há um trabalho do nosso corpo diplomático para conseguir a repatriação deste material, que se constitui em um patrimônio cultural e histórico do povo brasileiro e de toda a humanidade”, afirmou Ronaldo Bento.
Embaixador do Brasil na França, Luis Fernando de Andrade Serra definiu a cerimônia desta terça como um marco de um trabalho de longa data realizado pelas duas chancelarias e por autoridades de segurança pública em torno da restituição das peças.
“É o início de uma grande aventura para reaver todas as peças fósseis roubadas que estão aqui na França. Contamos com essa cooperação das autoridades francesas e estamos certos de que haverá outras restituições”, disse. Além do embaixador, o cônsul do Brasil na França, Emmanuel Guillemette, acompanhou o evento.
O material tem alto valor científico para estudos paleontológicos. A região do Araripe é a principal jazida brasileira de fósseis do período Cretáceo e o maior depósito de restos de pterossauro no mundo. Essa característica foi um dos elementos fundamentais para a inscrição de Araripe na Rede de Geoparques Globais da Unesco.
“Não são apenas materiais. São bens culturais, porque têm traços da identidade do povo Cariri. São especiais do ponto de vista de ciência. Para a ciência nacional hoje é um dia marcante”, afirmou Allysson Pinheiro, diretor do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, da Universidade Regional do Cariri, de Santana do Cariri (CE), também presente à cerimônia.
A recuperação dos fósseis é ainda um marco simbólico também de aplicação da Convenção de 1970 da Unesco, voltada para o combate ao tráfico ilícito de bens culturais. O texto consagra o princípio de que os bens culturais constituem um dos elementos básicos da civilização e da cultura dos povos, e que seu verdadeiro valor só pode ser apreciado quando se conhecem, com a maior precisão, sua origem, sua história e seu meio ambiente.
Para o diretor geral adjunto da aduana francesa, Jean-François Dutheil, a remessa dos fósseis ao Brasil representa o desfecho esperado do trabalho em conjunto das duas nações em torno desse tema. “A satisfação vem do fato de termos trabalhado juntos, franceses e brasileiros, para chegarmos a esse magnifico desfecho. Podemos assim restituir a um museu brasileiro esses bens arqueológicos, que serão expostos para o mundo inteiro, em prol da cultura brasileira”, disse.
Por Portal Novo Nortel