O desaparecimento do indigenista (pessoa que apoia a causa indígena), Bruno Pereira, e do jornalista inglês Dom Phillips representa muito mais do que só uma estatística da violência. Notoriamente os dois foram vítimas de um esquema maior, cujos tentáculos da criminalidade ultrapassam os limites territoriais do país. Um problema crônico em toda a nossa extensão fronteiriça, da qual a Amazônia pode ser um símbolo maior devido as organizações criminosas que atuam em toda aquela região.
A realidade trágica que estamos vivendo em todas as grandes capitais e também em muitas cidades do interior do Brasil é reflexo dessas inúmeras rotas existentes nas fronteiras. O armamento pesado, com fuzis, metralhadoras, granadas etc. para cometer assaltos em bancos ou até em roubos de carros vem dessas verdadeiras porteiras da criminalidade que são as fronteiras do Oiapoque ao Chuí.
Por elas o tráfico de drogas e o contrabando de armas é livre, estendendo a influência dos narcotraficantes em várias outras atividades ilícitas, como o desmatamento desenfreado para a comercialização de madeiras irregulares. Somado a isso, garimpeiros avançam em terras demarcadas, afrontando as comunidades indígenas, aliciando, estuprando e matando líderes locais.
E não para por aí. São vários outros os crimes cometidos a larga escala, com a exploração proibida do solo amazônico em busca da vasta riqueza mineral, onde o acúmulo de crimes ambientais só aumenta sem que o poder público tenha uma ação punitiva eficaz. Segundo dados do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), o número de alertas registrados nos cinco primeiros meses deste ano é o maior desde 2016. O acumulado de 2022 já representa 21% de tudo que foi desmatado no ano passado.
Esse cenário geral só reforça a desordem que impera no país, impactando a soberania nacional e a segurança pública. Ao longo dos anos, o Brasil ainda não conseguiu lidar com esse grave problema de ter uma dimensão continental, sendo um corredor para escoar drogas e armas dos países vizinhos, como Colômbia, Venezuela, Equador e Peru, cujos membros já se relacionam com os líderes das principais facções criminosas do país.
Há anos alertamos para esse problema, no qual foi determinante para fortalecer o narcotráfico que hoje atua fortemente nas grandes cidades. Combater a criminalidade é necessário, porém um plano estratégico para fechar efetivamente nossas fronteiras é essencial para frear a crescente violência e o sangue que jorra no país desde a Amazônia.
Por Marcos Espínola/ Advogado criminalista e especialista em segurança pública