Era um garoto que vivia uma infância feliz cercado de amigos, esse garoto só tinha um problema: era orelhudo, tinha uma senhora orelha! A criançada não perdoou, José Manuel, um espanhol metidinho, que chamavamos de parola, começou a chamar o orelhudo de borboleta. Pegou como visgo, ninguém mais o chamava pelo nome, era só borboleta. O garoto fingia que não ligava, mas quando perguntavam “como está a temperatura aí em cima?” a resposta era na hora “pergunta a sua mãe” e ai vocês sabem, botou a mãe no meio, porrada comia! Mas quando botavam a bola para rolar a alegria voltava radiante. O garoto cresceu e soube que a borboleta surgia através da metamorfose e que todo o processo era maravilhoso, coisa de Deus. Até passou a gostar, um pouquinho!
Ao observar a transformação das lagartas em borboletas, Carlos sentiu uma chama de curiosidade. Ele percebeu que aquelas criaturas, que eram tão simples e vulneráveis, passavam por um processo doloroso para se tornarem algo elegante e belo. Ambas as emoções floresciam dentro dele, a raiva e uma sutil admiração. Uma pergunta surgia em sua mente: seria possível que ele também pudesse se transformar?
As borboletas saíram de seus casulos, despontando como majestosas rainhas do ar, e, pela primeira vez, Carlos se sentiu tocado. A beleza inesperada gerou uma pequena fissura em seu coração, começando a derreter o gelo do ódio que o envolvia. Ele decidiu, então, seguir as borboletas para ver onde iriam, como se isso o levasse a algum tipo de revelação.
Enquanto caminhava pela floresta, Carlos encontrou várias criaturas em metamorfose: sapos em suas fases de transformação, girinos perdendo suas caudas e ganhando pernas, lutando para se adaptar à vida terrestre. Cada uma dessas mudanças, cada um desses sacrifícios, contava uma história de resistência e renascimento.
Um dia, ao olhar para o horizonte, Carlos avistou uma borboleta que voava majestosamente, exibindo cores que ele nunca imaginara serem possíveis. Era como se a própria natureza estivesse lhe mostrando que o amor pode, de fato, surgir das cinzas do ódio. Ele se lembrou das lagartas que, após enfrentarem o desafio da transformação, não apenas sobrevivem, mas se tornam seres de beleza incomparável. A partir daquele dia, Carlos decidiu que ele também queria se transformar.
Ele começou a cultivar o amor em seu coração, alimentando-o com gentileza, compaixão e compreensão. Ele entendia que a metamorfose não era apenas um fenômeno da natureza, mas também uma jornada interna que todos podiam trilhar. E foi assim que, aos poucos, a solidão e o ressentimento foram substituídos por amor e esperança. Sua nova vida inspirou aqueles ao seu redor a abandonarem suas próprias doenças emocionais, e ele se tornou um elo entre as borboletas voadoras e os corações que ansiavam por liberdade.
E, enquanto as borboletas continuavam a dançar sob o sol, a história de Carlos lembrava a todos que, assim como na natureza, as verdadeiras metamorfoses ocorrem quando se tem coragem de enfrentar as próprias sombras, buscando luz e amor, mesmo nas mais difíceis transformações.
Hoje, Carlos sem nenhuma cirurgia, não tem mais orelha de abano, foi a metamorfose em sua vida, enquanto parola…
Guto Sardinha