Eu e muitos brasileiros fomos educados erroneamente para acreditar que temos algum grau de superioridade sobre os outros países latinos. E daí para o menosprezo a distância foi curta. Por isso, não estranhei a reação de parte da nossa população, inclusive alguns “geniais” influenciadores com milhões de seguidores, criticando as nossas autoridades por terem apoiado a entrada da Bolívia no Mercosul.Aqui abro um parêntese para dizer da minha enorme antipatia pela existência dessa infinidade de influenciadores incultos e despreparados, que surgem do nada e logo se tornam ídolos para milhões de seguidores, ampliando a quantidade de quê? De outras pessoas incultas e despreparadas, é óbvio. Fecho o parêntese antes que estenda a minha má vontade aos atualmente incensados “outsiders políticos”, até porque esse é outro assunto que abordarei futuramente.Pois bem, voltando ao Mercosul, fiquei cá a pensar sobre quais as consequências boas ou más da Bolívia fazer parte da organização. E isso me fez pesquisar o assunto com muita isenção e longe de preconceitos políticos, sociais ou econômicos.Aprendi que na última cúpula dos chefes de Estado do Mercosul foi ratificada a adesão plena da Bolívia àquela organização e que, os outros países membros, Brasil, Uruguai, Paraguai e Argentina, tem muito a ganhar em matéria econômica, logística, comercial.Olhando para o que nos interessa, vemos que a Bolívia tem grandes reservas de matérias-primas que precisamos para produção de fertilizantes, podendo substituir potássio, fosfato e ureia, insumos que atualmente importamos de países distantes, como Rússia, Marrocos e Egito.Notem que a presença da Bolívia no bloco econômico será extremamente valiosa e estratégica para os muitas vezes esquecidos estados de Rondônia, Acre e, quiçá, Mato Grosso, que estão muito mais próximos do oceano Pacífico do que do Atlântico. Os portos de Arica, no Chile, e de Matari, no Peru, que já são utilizados pela Bolívia, poderão, a partir de agora, atender as exportações daqueles nossos estados.Quanto ao gás natural boliviano, que já importamos há mais de duas décadas, cujas reservas estão próximas da exaustão, com essa integração no Mercosul poderá ser facilmente substituído por gás argentino da região de Vaca Muerta, utilizando os gasodutos e instalações existentes na Bolívia. Sem dúvida, esta possibilidade reduzirá o alto custo do GNL (gás natural liquefeito), que atualmente importamos de países longínquos, com onerosos custos de transporte.

Segundo estudos do Banco Mundial, com a forte demanda por baterias para veículos elétricos, a procura por lítio deve aumentar 1000% até meados deste século. Dados atualizados mostram que as maiores reservas desse metal são bolivianas, com quase 23 milhões de toneladas. Em segundo lugar está a Argentina com 22 milhões, explicando a súbita e “desinteressada” paixão do Elon Musk pelos belos olhos do presidente Javier Milei. O Chile tem 11 milhões e a Austrália conta com 8 milhões. A China com 7 milhões de toneladas está na sexta posição. Obviamente que as reservas bolivianas são extremamente atraentes para o Brasil.Somem a tudo isso a possibilidade do incremento do comércio bilateral e, consequentemente, o aumento do mercado de trabalho no Brasil porque não exportamos para aquele país produtos primários. Exportamos produtos acabados, com valor agregado, o que gera empregos qualificados para nossos conterrâneos.Por tudo isso, a minha opinião é que a participação da Bolívia está sendo muito bem-vinda no Mercosul e isso será muito bom para o Brasil. Ser contra se explica por desconhecimento ou preconceito.

Por: Alfeu ValençaEx-presidente da Petrobrás e fundador da CONPET Consultoria e Engenharia de Petróleo.Alfeu assina a coluna no site https://temporealrj.com/alfeu/