Com a ajuda dos chineses, a estatal Pré-Sal Petróleo (PPSA) arrecadou inéditos R$ 17 bilhões no 4º leilão de venda de óleo da União, que pôs à venda a parcela da produção que cabe ao governo federal nos campos licitados sob o regime de partilha

Foi o primeiro certame do ano, organizado pela B3, a Bolsa de Valores de São Paulo. O valor ficou acima dos R$ 15 bilhões que eram esperados.

As petroleiras chinesas Cnooc e PetroChina desbancaram a Petrobras em dois dos quatro lances após uma forte disputa pela compra do petróleo do pré-sal que cabe à União.Dos 37,5 milhões de barris de petróleo vendidos, os chineses levaram 23 milhões de barris. O restante ficou com a Petrobras. O volume de óleo foi dividido em quatro lotes que serão produzidos nos campos de Mero e Búzios, ambos no pré-sal da Bacia de Santos, ao longo de 2025.Estatal negocia óleo da UniãoA PPSA é uma estatal que foi criada para gerenciar e fiscalizar a produção de petróleo e gás sob o regime de partilha nos campos do pré-sal, de alta produtividade. Nesse modelo, as petroleiras repassam parte do que produzem para o governo, de acordo com um percentual definido no momento do leilão do bloco. A PPSA vende os direitos sobre esse óleo e repassa os recursos ao governo federal.

O certame contou com a participação de Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia, e Pietro Mendes, presidente do Conselho de Administração da Petrobras. Os recursos, que hoje são destinados ao Fundo Social, só entrarão no caixa do governo, via Tesouro, entre abril de 2025 e abril de 2026.Na modalidade, vencem as propostas que tiverem o menor desconto em relação ao preço estabelecido pela PPSA. Nesse leilão, foi estipulado como preço mínimo o valor do Brent, acrescido de um desconto máximo de US$ 4,40 para os lotes de Mero e de US$ 4,25 para o lote de Búzios. Esse desconto ocorre porque o comprador precisa arcar com os custos logísticos, como pegar o óleo diretamente na FPSO, em alto-mar.

O leilão de hoje arrecadou R$ 17 bilhões, a maior da história dos leilões da PPSA. Em 2023, a parcela do petróleo da União foi de 47 mil barris por dia e a projeção para 2031 é que essa média aumente para 920 mil barris diários. Tenho dialogado com o ministro Haddad (Fernando Haddad, da Fazenda) para que parte da receita do óleo da União seja utilizada também para reduzir e criar um círculo virtuoso para a economia do Brasil com a conta de energia dos brasileiros, em especial os que pagam a CDE (Conta de Desenvolvimento Energético, um encargo setorial), que são os consumidores regulados, como a classe média e os mais pobres do Brasil — destacou Silveira.

Quem levou:Mero – Lote 1 (12 milhões de barris)O certame começou com o primeiro lote de Mero. A Petrobras levou com um desconto oferecido de US$ 1,85 em relação ao Brent. Fizeram propostas Cnooc (com desconto de US$ 2,55 em relação ao Brent), Galp (-US$ 3,10), PetroChina (-US$ 3,18), Refinaria de Mataripe (-US$ 3,30) e Total (-US$ 4,35).Mero – Lote 2 (12 milhões de barris)No segundo lote de Mero, houve concorrência entre Cnooc e Petrobras. Como a diferença entre as duas propostas foi originalmente inferior a US$ 0,40 por barril, iniciou-se uma disputa por viva-voz até que os chineses reduziram o desconto de US$ 2,05 para US$ 1,59.A Petrobras perdeu ao parar com um desconto de US$ 1,61. Fizeram propostas ainda Galp (-US$ 3,50), PetroChina (-US$ 2,78) e Refinaria de Mataripe (-US$ 2,95).Mero – Lote 3 (11 milhões de barris)A mesma concorrência ocorreu no lote 3 de Mero, entre os valores propostos por Petrobras e PetroChina. Assim como no lote anterior, os chineses levaram. A PetroChina venceu com um desconto oferecido de US$ 1,35 em relação ao Brent, menor que o desconto original de US$ 2,20.A estatal perdeu ao parar o desconto em US$ 1,37. Também participou a Galp (-US$ 3,10).

Búzios -Lote 4 (2,5 milhões de barris)No último lote do leilão, os 2,5 milhões de barris do campo de Búzios contaram com a concorrência entre Petrobras, Cnooc e Prio, cujas propostas tiveram uma diferença inferior a US$ 0,40 por barril.Na disputa, a Petrobras levou com um desconto de US$ 1,85 e derrotou a Prio. Participou ainda do lote a PetroChina (-US$ 3,00).Como houve concorrência, os descontos do barril ficaram entre US$ 1,35 e US$ 1,85, menor que o previsto em edital — de US$ 4,25 a US$ 4,40 por barril. Essa diferença fez aumentar a arrecadação.Tabita Loureiro, presidente interina da PPSA, enfatizou que o leilão registrou o maior valor já pago na história pelo óleo da União.— É um resultado excelente. O preço ofertado é muito superior ao dos contratos vigentes. Trabalhamos bastante no aperfeiçoamento do edital e na dinâmica do leilão para maximizar os resultados para a sociedade brasileira e cumprimos o nosso papel.Ao final do evento, Tabita anunciou que, em 2025, a PPSA voltará à B3 para comercializar a produção estimada para a União em 2026.— Os contratos de partilha vão gerar muito óleo para a sociedade brasileira. Em 2029, nossa previsão é de uma arrecadação talvez de R$ 90 bilhões.

Defesa da Margem equatorialNo discurso de encerramento do certame, Silveira voltou a defender a exploração na margem equatorial, que depende de aval do Ibama para que a Petrobras consiga perfurar um poço de exploração na costa do Amapá, na Bacia da Foz do Amazonas.— O atraso da margem equatorial está deixando de criar um círculo virtuoso para a economia. Vamos resolver isso. Temos que juntar os esforços e deixar de lado o radicalismo ambiental. A exploração de novos recursos em óleo e gás pode gerar R$ 5 trilhões entre 2031 e 2050, mas se interrompermos os investimentos podemos perder até R$ 4 trilhões em arrecadação nesse mesmo horizonte. Não podemos abrir mão desses recursos.Ao todo, dez empresas se habilitaram para participar do leilão desta quarta-feira. Estavam habilitadas Petrobras e Refinaria de Mataripe, além das petroleiras ExxonMobil, Equinor, Galp, PRIO, Shell, TotalEnergies, CNOOC e PetroChina.Este ano, a PPSA já arrecadou R$ 3,85 bilhões até julho, referente a um leilão feito em 2021 e vendas no mercado livre (spot). Em 2023, a PPSA arrecadou R$ 6,02 bilhões.Os campos de Mero e Búzios são operados pela Petrobras. Pelo regime da Partilha, a União tem direito a 23,24% da produção de Búzios e a 41,65% em Mero. A União tem ao todo 23 contratos de partilha.