*Marcos Espínola
Vivemos anos turbulentos, tanto por uma polarização política inflamada quanto por uma pandemia que impactou o mundo inteiro. Agora, a pandemia, ainda que continue causando óbitos, está mais controlada e nosso cotidiano bem mais próximo do normal. Paralelamente, o novo pleito se encerrou e, como sempre, há o lado perdedor e o vencedor, pois assim é a democracia. E o que se espera, a partir de agora, são tempos de paz.
Foram dias muito difíceis. A começar pelo clima político desde 2018, algo jamais visto nesse país com tamanha intensidade. Muito desentendimento, famílias se dividindo, amigos rompendo e cidadãos de bem, por pensarem diferente, se digladiando e até se matando. Desde a redemocratização, em 1988, sempre houve lados antagônicos, ideologicamente e politicamente, mas mesmo com debates ferrenhos e até alguns insultos (muitas vezes dignos de boas risadas) tudo ficava no campo político e os cidadãos tiravam suas conclusões diante do que se apresentava.
Não havia esse clima de ódio e o povo não era omisso, muito pelo contrário, se fazia ouvir, como nas passeatas pelas “Diretas já” e também no movimento dos “Caras Pintadas”. Ambos os eventos ficaram marcados na história brasileira como uma das maiores representações populares e democráticas desse país.
Infelizmente, nos últimos cinco anos erramos a mão. Sim, digo erramos porque todos somos responsáveis, a classe política, cada cidadão e os diversos segmentos que fomentaram a “guerra” de narrativas. Para piorar, nos deparamos com uma pandemia e um cenário que desconhecíamos. Um isolamento social jamais visto, assustador e que deixou sequelas. As notícias eram de pessoas sem oxigênio nos hospitais, sucessivas mortes, um caos, cujo saldo contabilizamos até hoje com quase 700 mil brasileiros mortos.
Ambas as situações, polarização e pandemia, trouxeram alto estresse para cada lar brasileiro. Desavenças, separações e perdas de pessoas queridas. Entes que se foram vítimas da doença e entes que se foram, mesmo estando próximos, mas por intolerância.
Agora, temos o dever de refletir e virar a página, deixando as diferenças de lado. Se não as diferenças, mas, pelo menos, o radicalismo, entendendo que somos pequenos diante de certas situações. Sem querer ser clichê, efetivamente precisamos entender que juntos somos mais fortes e que ainda temos muitos problemas que, para enfrentá-los, precisamos de paz.
*Advogado criminalista e especialista em segurança pública