Em meio à recente recuperação dos preços do petróleo no mercado internacional, as empresas começam, aos poucos, a ganhar confiança para avançar com novos projetos. Somente neste mês de junho, quando o barril do tipo Brent ultrapassou os US$ 70 pela primeira vez em dois anos, a Petrobras, a norueguesa Equinor e a australiana Karoon já anunciaram investimentos de cerca de US$ 10,5 bilhões no Brasil, para os próximos anos.
A lista de novos projetos se concentra na Bacia de Santos. No pré-sal, a Petrobras fechou contrato para a oitava plataforma do megacampo de Búzios, enquanto a Equinor decidiu avançar com o projeto de Bacalhau. No pós-sal, por sua vez, a Karoon aprovou um investimento na descoberta de Patola. Juntos, esses três ativos devem contribuir, no pico de suas operações, com uma produção de aproximadamente 410 mil barris diários – o equivalente a 14% do volume produzido hoje no país.
Para o chefe de pesquisa da área de exploração e produção de petróleo da Wood Mackenzie na América Latina, Marcelo de Assis, os investimentos recém-anunciados no Brasil ocorrem dentro de uma tendência global de retomada gradual dos projetos no setor, depois de 2020 ter sido marcado pelo choque dos preços da commodity e pelo corte abrupto dos orçamentos das petroleiras. Assis lembra que Bacalhau e Patola são projetos maturados há alguns anos e que estavam na fila, dentro do portfólio das empresas, esperando o momento oportuno.
“A volta dos investimentos é uma tendência que temos observado. Esses projetos, no Brasil, guardam uma característica em comum: eles têm um ‘breakeven’ [preço de equilíbrio que justifica a viabilidade econômica] baixo. São projetos bem rentáveis num cenário de preços baixos”, comenta.
Num contexto de transição energética para uma economia de baixo carbono e diante da expectativa de que a demanda global por petróleo entre em declínio nas próximas décadas, projetos com “breakeven” e índices de emissões de carbono baixos (como os do pré-sal) serão grandes diferenciais, dentro do portfólio cada vez mais seletivo das petroleiras.
A Wood Mackenzie mede as tendências de aquecimento do mercado com base num levantamento periódico sobre o número de tomadas de decisão final de investimentos (FID, na sigla em inglês) das empresas do setor. Apesar da retomada dos projetos, a analista Fernanda Pedó ressalva que o número de FIDs deste ano ainda deve se manter abaixo dos patamares pré-crise, no mundo. “O ano de 2020 foi bem crítico e a tendência é que 2021 recupere, mas não ainda a um nível pré-2020. A tendência é que só em 2022 e 2023 a indústria retome os números pré-crise.”
A expectativa da consultoria internacional é que a maioria dos novos FIDs se concentre em projetos localizados em águas profundas, em mercados como o Brasil, Golfo do México e Suriname e Guiana Francesa, por exemplo.
A Rystad Energy calcula que os investimentos em exploração e produção de óleo e gás no biênio 2020-2021 caíram 27% desde a eclosão da pandemia de covid-19. A consultoria prevê que, embora devam começar a aumentar lentamente a partir de 2022, os gastos das petroleiras não atingirão os níveis pré-pandemia, de US$ 530 bilhões/ano, pelo menos até 2025 – horizonte limite da projeção.
Para o presidente global da Karoon, Julian Fowles, contudo, a recuperação recente dos preços do petróleo “dá mais confiança” para a retomada dos projetos.
“Eu acho que [as decisões de investimentos] estão relacionadas ao preço do barril, que nos dá a confiança de investir quando vemos preços a níveis que nos darão retornos com menores riscos. Mas provavelmente é também a combinação de muitos anos de trabalho nessas áreas. Estamos trabalhando com exploração na Bacia de Santos há muitos anos. O ano de 2020 foi muito maluco para os preços do barril, vimos contratos futuros de preços ficarem negativos e isso trouxe muita incerteza ao mercado em geral. Acho que hoje estamos vendo um preço de Brent de cerca de US$ 70, o que nos dá mais confiança. E, além disso, estamos vendo a demanda retornar. Toda a equação entre demanda e produção está se equilibrando a favor de preços mais altos”, disse.
A Karoon anunciou neste mês o FID de Patola, descoberta próxima ao campo de Baúna, adquirida junto à Petrobras em 2020. O caso é um exemplo de como o programa de desinvestimentos da estatal brasileira deve movimentar novos projetos em ativos até então relegados. A australiana vai investir até US$ 195 milhões na perfuração e conexão de dois poços à plataforma Cidade de Itajaí, responsável pela produção em Baúna. A campanha de perfuração está prevista para o segundo semestre de 2022. A Karoon estima que o ativo poderá produzir 10 mil barris/dia.
Dentre os novos investimentos recém-anunciados no Brasil, este mês, o grande destaque fica por conta do FID da Equinor para o projeto de Bacalhau (ex-Carcará). A norueguesa, em parceria com os sócios ExxonMobil e Petrogal, investirá US$ 8 bilhões para produzir o campo em 2024. Bacalhau será o primeiro ativo a ser desenvolvido por uma petroleira estrangeira no pré-sal brasileiro. A plataforma contratada para a primeira fase de produção terá capacidade para 220 mil barris/dia.
Já a Petrobras anunciou, neste mês, a contratação, por US$ 2,3 bilhões, da P-79 – oitava plataforma flutuante (FPSO) de Búzios. O contrato foi assinado com a joint venture formada pela Saipem e a DSME, e prevê a entrega, em 2025, de uma unidade com capacidade para processar 180 mil barris/dia.
E a lista de novos projetos deve continuar crescendo. Fernanda acredita que, para este ano, a Petrobras deve avançar, ainda, com o FID da nona plataforma de Búzios e com o projeto dos volumes excedentes da cessão onerosa de Itapu.