As peles que envolvem as coisas. A pele da maçã, a pele de uma criança, a pele de uma mulher. O homem que trabalha pesado, sua pele transpira. A pele dos jovens na praia que queimam através dos raios do sol. A pele que morre e que se renova nos corpos de todos nós. A pele da cereja, a pele de urso, a pele de tantos animais.

Os homens também possuem peles. As mulheres revestem suas peles com peles de outros bichos. Sapatos de ‘pele’ de cobra. Sapatos com tantas peles. Mas, a superfície de uma rocha seria uma pele? As superfícies são peles… assim uma criança toca a superfície-pele de uma rocha para sentir as suas ranhuras, suas entranhas, suas fissuras.

Os olhos são envolvidos pela pele. Cada parte do nosso corpo tem como superfície algum tipo de pele. Assim, o contato se faz por uma pele contatual. Contato que se faz entre peles. O contato de uma criança com a sua mãe. A superfície-pele dos olhos da criança são tocadas pelas imagens da sua mãe. O perfume da pele do corpo da criança tem a potência de tocar a pele complexa que recebe este mesmo perfume envolvendo-o em todo o caminho, em todo trajeto sensível para que o corpo reconheça este perfume… mais uma vez!

No entanto, existe uma Terceira Pele. Esta pele nasce do encontro entre as pessoas com outras pessoas quando elas fazem um contato sensível, atento, afetivo. Esta é a experiência de estar com as pessoas, com o mundo no qual nos relacionamos e buscamos, simplesmente… sentir! A Terceira Pele nasce da propriedade fundamental para a vida de muitos seres, inclusive, nós humanos que é a experiência de sentir. Fazer contato com as emoções que nascem dos encontros com uma música. A música faz a pele arrepiar. Somos envolvidos por ela… ela possui um significado afetivo importante. A música nos comunica algo que é da ordem da lei dos afetos.

A Terceira Pele nasce como uma pele-ambiente que nos envolve, que nos aconchega quando vivemos sensivelmente, afetivamente, o encontro com pessoas, outros animais, a natureza. Decorre daí que esta pele-mãe é uma pele de trocas. É um espaço que nos envolve quando o olhar se deixa tocar por um outro olhar… é quando um abraço acolhe um outro abraço… é quando as peles que envolvem as tantas partes de cada corpo se liga às outras peles… mesmo à distância! E a experiência de sentir esta Terceira Pele também não é predeterminada, não é preconcebida: ela, simplesmente, acontece quando as pessoas desenvolvem a sensibilidade de prestar atenção ao que acontece aqui-e-agora. A cada momento podemos sentir o fluxo contínuo daquilo que toca a nossa existência. Podemos sentir como o mundo é tocado pela e através a nossa presença neste mesmo mundo! A Terceira Pele é filha deste contato sensível, conosco, com os outros, com as outras peles que envolvem tudo o que existe. Uma poltrona confortável possui a sua superfície: ela é envolvida por tantas variedades de peles… pele couro, pele tecido, peles de tantas qualidades!

A humanidade dos seres ditos humanos reside, efetivamente, na experiência profunda da propriedade de sentir. É esta propriedade que faz a nossa humanidade visto que o nosso corpo é o primeiro a dizer e a comunicar como estamos aqui-e-agora. Spinoza já nos ensinou no seu livro chamado ‘Ética’ que a primeira ideia que temos é a ideia do nosso corpo.

Terceira Pele… ser afetado pelo mundo, afetar o mundo com o seu modo tão singular de ser. A desumanidade do mundo é o efeito da esclerose da propriedade de sentir. Deixe a pele ser tocada… pelos poros do olhar… pelos caminhos dos dedos de uma mão em seu rosto… seu rosto devém paisagem… o perfume da sua pele que toca o dedo de quem te acaricia… o dedo leva consigo os vestígios perfumados colhidos do contato com os trajetos da tua pele… Contato sensível, encontro… encontro de peles, encontros de vida… Amor!

Abraço,

Paulo de Tarso