É, no mínimo, muito interessante o que estamos assistindo hoje, quando se olha para a realidade política brasileira. Depois de anos de governos que fizeram todos os tipos de conchavos nacionais e internacionais, financiados pelo BNDES, que levaram o Brasil à maior recessão econômica de sua história, que produziram o maior escândalo de corrupção de que se tem notícia, que lotearam a máquina pública entre seus membros e seus “aliados” e que deixaram o país com mais de 25 milhões de desalentados (eufemismo para desempregados e desocupados), qualquer medida anunciada pelo novo governo eleito, vem sempre noticiada com alguma desconfiança.
As críticas a qualquer medida ou indicação são sempre baseadas em: “analistas dizem que tal medida é problemática”, “ex-ministros da educação não concordam com o discurso do indicado para o cargo”, “a nova política externa brasileira é criticada por ativistas europeus”, “o presidente eleito não tem articulação com o Congresso” pois está nomeando para o seu ministério pessoas técnicas e identificadas com o seu pensamento político conservador. Vejo aqui uma crítica intensa à coerência até aqui demonstrada, por aqueles que venceram, democraticamente, as últimas eleições. Parecem-me argumentos de maus perdedores. Não se pode fazer omelete sem quebrar os ovos.
Jair Bolsonaro foi eleito, justamente, por combater a velha política e seus costumes, que nos levou a este estado caótico e pré-falimentar em que o país se encontra. É uma ilusão alimentar a esperança de que, a partir de 1º de janeiro de 2019, tudo será diferente. Que surgirá, como num passe de mágica, um país próspero, seguro e que seremos felizes para sempre.
Definitivamente não! O trabalho que o novo governo terá será hercúleo, apenas para não piorar a situação atual. As reformas, que todos nós já sabemos que são necessárias, não passarão pelo Congresso impunemente, pois, apesar da inédita renovação, ainda temos muitos políticos cuja única motivação é legislar em causa própria (exemplo: aumento para os juízes do STF).
Sei que é utópico, mas a hora agora é de união de todos os brasileiros independentemente se gostam ou não do novo governo. A única opção que temos é dar um voto de confiança aos novos dirigentes. Sem dúvida, não significa dar um cheque em branco, devemos estar sempre vigilantes, mas a oposição por oposição não é contributiva, ao contrário, é como jogar na destruição, no quanto pior, melhor. No mínimo é extremamente medíocre pensar e agir dessa maneira. O país enfrenta uma guerra e, para o bem de todos, devemos deixar nossas ideologias de lado e lutar, como nunca foi feito, pelo bem do Brasil.
* Celso Luiz Tracco é economista e autor do livro Às Margens do Ipiranga – a esperança em sobreviver numa sociedade desigual