Painel-O-Debate

Qual macaense sabe que há mais de um século, cinco famílias migraram do Japão, fundaram uma colônia na Serra e tentaram extrair, ao máximo, o conhecimento e as riquezas de uma terra que, depois de décadas, foi capaz de alicerçar um futuro próspero para o Estado e o país?

Antes mesmo do início da propagação da cultura japonesa em São Paulo, onde cerca de 700 imigrantes desembarcaram há 110 anos para produzirem café em terras brasileiras, Macaé já havia se tornado uma referência para a tradição hipônica, algo que precisa ser preservado, não apenas pelos descendentes dos sanseis que aqui chegaram.

Pelas mãos do mestre Shiro Matsuda, o Judô tornou-se um estilo de vida para macaenses de raiz, que adotaram o esporte como uma filosofia capaz de canalizar a energia de crianças e adolescentes arteiros, em algo produtivo, através do esforço, da técnica e da disciplina.
Ao longo dos anos em que o petróleo tornou-se a principal fonte de riqueza para a cidade, essa cultura também ajudou a manter preservada parte da história local, afetada mediante a globalização ocasionada pelo chamado “turismo de negócios”, que modificou por completo a identidade da cidade.

Passados anos de desenvolvimento e de riquezas, Macaé é uma cidade sem alma própria. E isso se deve, não apenas aos impactos provocados pela miscigenação de culturas, compartilhadas por milhares de pessoas que migraram em busca das oportunidades do petróleo. A perda desta identidade se deve também à falta de cuidado e de responsabilidade do poder público.

Da cultura japonesa ao samba, do carnaval de rua aos festivais de verão, toda a alegria do povo acabou se transformando em algo a ser perseguido e banido, por uma falsa ideia de desperdício do dinheiro público, hoje canalizado para ações que, em nada, ajudam a preservar a memória local.

Se no passado excessos foram cometidos para sustentar festas e eventos sociais, hoje a ausência desta programação social, acaba tornando a cidade bem mais triste, calada pela perseguição ao que antes era sinônimo de felicidade.

Por mais que seja preciso tornar a gestão pública eficiente, não se pode tratar como superficial as manifestações que carregam marcas do passado, que ajudam a amenizar o sofrimento do povo que ainda sente na pele as consequências da crise. E quando não há esperança, a tristeza é o que realmente prevalece.