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Projeto poderá dar o nome de Joaquim de Azevedo Mancebo ao Aeroporto de Macaé

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Deputada federal Soraya Santos (PR-RJ) é autora do projeto de lei que denomina novo nome do Aeroporto de Macaé - Marcos CorrêaPR

Representantes de instituições empresariais reivindicaram iniciativa da deputada Soraya Santos para apresentar projeto na Câmara dos Deputados

O Aeroporto de Macaé, que teve a pista reformada e a estação de passageiros construída, dentre outras dependências modernizadoras, a ser inaugurado pela Infraero nos próximos dias, poderá ser conhecido como Aeroporto Joaquim de Azevedo Mancebo. A solicitação foi feita por diversas instituições empresariais de Macaé à deputada federal Soraya Santos (PR-RJ), que registrou o projeto na Câmara dos Deputados e iniciada a nova legislatura, já começou a tramitar para aprovação. “Estamos desejando perpetuar o nome de um macaense que fundou o Aero Clube de Macaé e construiu a primeira pista de pouso no município”, disse Cliton da Silva Santos, que junto com outros empresários que fazem parte das diversas instituições – Associação Comercial, Comissão Municipal da Firjan, Convention & Bureau, Rede Petro, Amacon e Repensar Macaé, encaminhou a solicitação para Soraya Santos, com extensa justificativa e a biografia da pessoa a ser homenageada, considerando que Macaé é o único aeroporto que não tem denominação registrada na Infraero.

Coube a Denise Bittencourt Mancebo, filha do homenageado, a responsabilidade de construir uma obra rara, a biografia de Joaquim de Azevedo Mancebo, que morreu em um acidente aéreo, quando seu avião, um teco-teco, colidiu numa rede de alta tensão no bairro Engenho da Praia. Ela diz “que foram anos inesquecíveis, insubstituíveis. Quando se tem a oportunidade de conviver com um gênio, a vida jamais será banal”, e mais adiante: Pensei, então, como posso colher os inúmeros dados que preciso falar de nossa pai, o nosso Santos Dumont de Macaé”?, afirmando que recorreu à riqueza do arquivo que sua mãe, Lydia Bittencourt Azevedo, levou com ela.

DELICIOSAS LEMBRANÇAS DE MEU PAI

Ele nasceu em 11 de fevereiro de 1924 em Carapebus, pequena vila canavieira, naquela época ainda fazia parte do Município de Macaé. Seu pai, Salvador Mancebo, único filho da família Mancebo que nasceu no Brasil, vindos de Málaga, Espanha, para vencerem em terras estrangeiras. Sua mãe, Cecília Azevedo. Avó que infelizmente não conheci. Cursou o primário, terminando assim a 5ª série. Bem, vai aqui um parêntese – me lembro de volta e meia algum ex-colega de meu pai me contar sobre como ficava revoltado na época que estudava com Joaquim, assim me diziam.

Eu perguntava por quê? A resposta era sempre a de que ele brincava e nas provas ele sempre tirava 10. Ainda hoje acho curioso, visto que este sentimento me foi relatado por vários de seus colegas de turma. Imagino também como deveria ser difícil naquela época conseguir a nota máxima nas provas. Sei que ele passou parte de sua adolescência em Santa Maria Madalena, lugar do qual ele falava com orgulho e muito carinho. Fez curso técnico de mecânica na antiga Fábrica Nacional de Motores, no Rio de Janeiro. Como me é familiar o som da palavra fenemê, assim se pronunciava a sigla FNM. Porém o que me vem simultaneamente à memória quando penso em meu pai é o seu inseparável avião, o PP-RHL, o papa, papa, Romeu, hotel, lima (não podia deixar de usar o Alfabeto Fonético

Internacional, este foi o primeiro que aprendi). O PP-RHL era um Paulistinha, popularmente conhecido por teco-teco. De cor amarelo clarinho com letras vermelhas, muito bem pintadas por ele. Posso ainda vê-lo com a lona e todo o material necessário fazendo os reparos na carenagem, impecavelmente alinhados e bem feitos. Como um menino e seu brinquedo favorito, insubstituível, ele assim também queria com seu avião brincar, voar. Embora sendo de origem humilde e nós também levássemos uma vida simples, ele possuía um avião. Pra mim e meu irmão isso não era nenhuma façanha, era a nossa realidade. Além de sua imagem sempre perto de seu maior Amigo, o Avião, não escapa às minhas lembranças a imagem dele todo sujo de graxa trabalhando em sua oficina de carros.

Seus serviços pagavam parte das despesas domésticas que eram completadas com o trabalho de nossa mãe, a outra parte do que ele fazia era sagradamente gasta na gasolina azul que comprávamos no caminho ao aeroporto quando parávamos no posto do Sr. José Batista, por quem ele cultivou respeito e amizade. Posso sentir o cheiro forte e agradável da gasolina azul que enchia o galão. Partíamos no nosso Jeep, sempre tínhamos um, muitas vezes sem capota, outras com capota rasgada, muito raramente, um inteirinho. O PP-RHL? Ah, este era uma tetéia! Estávamos sempre acompanhados de nossa mãe.

Fundação do Aero Clube

No aeroporto eu me distraía com os carangos que fugiam aos montes à nossa chegada. Esperava até que eles viessem todos pra fora e corria pra espantá-los. O terreno era então arenoso e o lugar era completamente deserto. A sede tinha um balcão que parecia ser bem alto pra mim. Algumas salas e portas de vidro. Na parte externa lembro que havia uma espécie de plateau, também um pouco alto pra mim naquela época. Joaquim fez um hangar de madeira para abrigar um segundo avião quando se fizesse necessário. Tinha o formato de um avião, as asas, o corpo do avião e a cauda. Havia então dois hangares, um à direita de quem entrava no aeroporto e um à esquerda.

A cerca que limitava o aeroporto da estrada do canal era toda feita com arame farpado. Às vezes íamos à casa do controlador da torre, do outro lado do canal, onde hoje é o bairro do Aeroporto, tudo era areia e a vegetação era puramente de restinga, muito agradável. Havia ali sempre alguma criança pra brincar, ali era a residência da família do controlador. Era preciso que Macaé tivesse seu próprio aeroclube, visto que o número de apreciadores da aviação crescia na cidade. Lembro-me bem da dificuldade que papai teve pra fundar o AEROCLUBE DE MACAÉ, de onde ele é sócio-fundador. Sua matrícula é de número 01, agora o dez ao contrário, ainda o primeiro. Guardo com carinho sua carteira de Diretor do Aeroclube de Macaé, datada de 05 de março de 1966.

Posso ainda hoje ver meu irmão, Joaquim de Azevedo Mancebo Junior à caça de assinaturas a serem recolhidas para que se alcançasse o quorum exigido pelo órgão expedidor, o Aeroclube de Campos. Lembro-me dos amigos entusiastas da aviação que lá em casa se reuniam às vezes na sala, às vezes na varanda, pra idealizarem o aeroclube de nossa cidade. Alguns deles eram Dr. Antonino Cure, Sr. Gerson Santana, Paulo Roberto do Carmo Thomaz, Geraldo do Carmo Thomaz, Adenail Felix Dantas, Zehil Silva, Honório José da Silva, Agildo Soares Moacyr Mello Vieira, dentre outros. É incrível como estes homens eram considerados por papai, eles tinham em comum o seu mesmo amor pela aviação, eles também compartilhavam de seu prazer por voar.

Eles tinham uma árdua tarefa que era cumprir com as exigências do aeroclube de Campos, o que parecia quase impossível, era sempre necessário que eles apresentassem mais um documento para que o nosso aeroclube fosse fundado. Neste momento faz-se necessário que voltemos no tempo. Certa vez, voou sobre Macaé um avião da FAB, Força Aérea Brasileira. Joaquim, um menino aficionado por aviação, quase rapazinho, correu para o aeroporto em sua bicicleta, percebendo que o avião voava baixo para uma aeronave daquele porte naquela região. Certamente o piloto precisava de ajuda. Chegando lá, dito e feito. Lá estava aterrissado o avião. Ficou maravilhado, tenho certeza de que ele sentiu o mesmo que um menino sente quando vê outro menino com um brinquedo mais moderno, muito mais possante do que o dele. Não exagero, quem o conheceu sabe bem o que quero dizer.

Ajuda de Oficial da FAB

Com o AEROCLUBE DE MACAÉ fundado, restava agora o próximo passo – a licença pra voar, o brevê. Vou explicar porque aprendi o alfabeto antes do nosso próprio alfabeto: ele me pedia pra perguntar-lhe o que cada uma das letras era no Alfabeto Fonético Internacional, assim aprendíamos juntos. Ele estudava pra tirar seu brevê. Pra aprender matemática e outras fórmulas que precisava saber, ele espalhou pela casa e até no teto algumas tantas folhas de compensado onde escrevia a giz até sentir que já sabia e então escrevia novos assuntos a serem aprendidos.

Para tirar o brevê ele precisou ir várias vezes a Campos, ia de lambreta por estrada de chão, assim eu ouvia contar, estrada de chão. Ele prestou o exame dentre tantos que como ele também sonhavam em ter a carteira pra voar. Eram médicos, advogados, homens diplomados. Joaquim? Passou. Era orgulho de minha mãe contar pra todos que a menor nota dele foi oito dentre tantos 10 nos outros assuntos. Ah, Quincas, parece que você é 10! Agora voar, voar, voar…

Que sensação maravilhosa. Herdei dele esta paixão. Sempre que voava com ele pedia pra me deixar pilotar, ele então me explicava que era cedo. Sempre foi muito responsável e prezava pela segurança daqueles que voavam com ele. As pessoas que voavam pela primeira vez, estas então nem se fala, ele tinha o maior cuidado para que não se assustassem com nada.

O prazer em voar deveria ser experimentado por todos, dizia ele. Porém, quando ele estava sozinho, saciava sua vontade incontida, a de um homem que precisava respirar novos ares, outros ares. Lembro-me bem quando íamos ao Sana, onde ele instalava luz elétrica nas fazendas que tinham água em abundância, mas não tinham energia, portanto, nenhum aparelho elétrico, muito menos lâmpadas nos tetos. Inúmeras vezes ele teve que ir a Macaé buscar material, minha mãe, meu irmão e eu ficávamos na fazenda.

Não demorava, ouvíamos o motor do avião sobre nossas cabeças, seguido de um grito dele lá de cima, agora motor cortado, chamava nosso nome, sempre chamava também o nome do dono da casa. Lá vinha então a sacola, bem embrulhadinha, com o pão, produto de luxo numa fazenda do Sana de então, era final da década de 60 e início dos anos 70. E o vento? Não importava, ventasse para o lado que fosse, a sacola com pão e o Assugrin de mamãe caiam exatamente onde ele apontava para pegarmos. Muitos eram os rasantes nesta operação. Extasiado, maravilhado, feliz. Estava exatamente onde queria estar. Em 1972 resolveu visitar suas irmãs no sul do Brasil, Paraná.

Fronteira com o Paraguai

Providenciou todos os preparativos para uma viagem solo. (Ah, me lembrei de seu primeiro voo solo, do banho que lhe deram com óleo queimado de avião e de como ele correu pra se livrar e tentar se lavar no canal que passa à frente do Aeroporto de Macaé. Como chorei inocentemente pensando que maltratavam meu pai). Chegado o dia, decolou e lá se foi, ele, seu PP-RHL e sua bússola. Lá chegando, caçou. Ainda hoje posso escutar os pios e cantos dos pássaros que ele viu por lá.

Encantou-se tanto com tamanha beleza que trouxe uma fita gravada com o som da mata para que pudéssemos ter uma ideia do que ele tinha experimentado. Esteve também na fronteira com o Paraguai, na Foz do Iguaçu, de onde nos trouxe inúmeros souvenirs. Pôde confraternizar com suas irmãs e seus familiares. Estava muito feliz. Fazendeiros da região que viram o avião no aeroporto local gostaram muito da aeronave, impecável. Souberam que o motor era sereno e que havia vindo de longe, do Estado do Rio de Janeiro. Gostaram tanto que lhe ofereceram um bom dinheiro pra comprar seu objeto de estimação, certamente ele recusou.

Os fazendeiros então lhe fizeram uma segunda oferta. Esta, irrecusável. Além do preço maior, também pagaram por toda sua viagem de retorno à Macaé, com alimentação e toda despesa que ele pudesse ter na viagem. O avião seria usado na pulverização das fazendas de soja. Lá então deixou o tão querido Teco-Teco. Ao chegar em casa, mostrou-nos o dinheiro que havia recebido. Minha mãe disse logo que aquela quantia nos daria tranquilidade financeira. Porém, mais que depressa ele deixou claro que aquele dinheiro só seria usado para a compra de outro avião. Dito e feito. Viajou a Belo Horizonte e do Aeroporto de Lagoa Santa trouxe um Aeronca, avião mais novo, com os manches lado a lado, estilo meio-volante.

Como estava feliz! Este avião veio com reparos por fazer, principalmente o motor. Lá então se dedicava ele a regular o motor, decolar, voar alguns minutos e aterrissar para novas regulagens. Aos poucos o avião ia ficando do jeito que ele queria. Foi na manhã de 1º de setembro de 1973, mamãe o levou ao aeroporto e voltou pra casa. Ele estava muito feliz, me lembro de mamãe sempre recordar d’ele dizendo: “Saboreou a broa de milho que eu havia feito, comeu mais do que de costume naquela manhã de sábado. Saiu feliz pra voar. (a) Denise Bittencourt Mancebo.

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