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Politicamente correto é mesmo correto?

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Hoje vou abordar um assunto polêmico, que certamente atrairá a ira de alguns dos meus reduzidos leitores. Que, neste caso, para minha sorte, são realmente poucos. Eu vinha adiando essa publicação, mas, entendendo que a um octogenário não é inteligente procrastinar nada, resolvi ir em frente. Estou convicto de que a pior manifestação de censura é aquela enrustida.

E, atualmente, um exemplo que me incomoda — e condeno — é a censura dissimulada sob o manto do “politicamente correto”.

Sei que não são poucos os viventes que pensam como eu e desgostam dessas formas de expressão, mas a maioria se omite, temerosa de ser atingida pelo modismo do ‘cancelamento’. Não sendo usuário de redes sociais, eu fico blindado dessas censuras e à vontade para opinar francamente sobre o assunto. Entendo que as pessoas tenham esse receio, mas o que me deixa intrigado é ver a imprensa — tão ciosa da sua liberdade — aceitar, se submeter, adotar e cobrar a prática do politicamente correto, parecendo não perceber que ela é uma insidiosa forma de autocensura. A sua adoção atinge em cheio a liberdade de expressão, tira a espontaneidade do falar e escrever e constrange o pensamento liberal.

Hoje, as pessoas pensam duas vezes antes de pronunciar determinados adjetivos por puro medo. Medo de serem mal compreendidas ou de sofrerem críticas e, pasmem, medo de até serem processadas criminalmente por usarem termos que constam formalmente de todos os dicionários da língua portuguesa, incluindo o da Academia Brasileira de Letras.

Tenho sincero receio de que as restrições linguísticas rigorosas inibam salutares discussões e debates honestos, e silenciem opiniões, argumentos discordantes e vozes dissidentes. Ao filtrar constantemente palavras e frases, que eram utilizadas normalmente até há pouco tempo, certamente sufocaremos muitos debates saudáveis e estimularemos — insisto — o cerceamento da liberdade de expressão..

Obviamente, entendemos que a liberdade de expressão não é licença para disseminação de preconceitos e ofensas, os quais devem sempre ser repudiados com veemência. O que discordo, com igual veemência, é o exagero e o radicalismo de alguns militantes do “politicamente correto”. Pior ainda é quando, e muitas vezes, testemunhamos indivíduos usando o politicamente correto para se vitimizar, justificar atitudes condenáveis e angaria proveitos pessoais.

Existe coisa mais ridícula do que chamar um anão de pessoa com estatura prejudicada? Talvez alcunhar um aleijado de pessoa com necessidades especiais seja pior. Ah, mas recentemente essa expressão também foi condenada, e o “correto” agora é dizer pessoa com deficiência, explicando que deficiência é uma condição existencial da pessoa e não algo que alguém “porta” ou “leva com ela”.

E o que justifica chamar os índios de povos da floresta ou povos originários se isso em nada muda suas vidas inseguras e ameaçadas por brancos ‘civilizados’? Ah, cuidado: dono de cachorro agora é tutor, e não se espantem quando a ‘pejorativa’ expressão complexo de vira-latas for substituída por complexo de caramelos. Mendigos deixaram de existir, não por terem melhorado de situação econômica, mas porque se transformaram em “pessoas em situação de rua”. Os pobres trabalhadores miseráveis flagrados explorados em fazendas de proprietários desalmados não são escravos, são pessoas em “condições análogas à escravidão”, o que em nada muda a situação deles.

Os negros viraram afrodescendentes e favelas são “comunidades”. Sem dúvida os moradores dessas “comunidades” não ficariam incomodados em serem chamados de favelados, desde que os governos ali colocassem água, luz, telefone, saneamento, escolas, creches e hospitais.

O politicamente correto, tal como vem sendo praticado, favorece uma visão monolítica, criando apenas uma maneira única de pensar e falar, e isso não é bom. Voltemos a ser espontâneos, honestos e naturais, sem autocensura!

Avalizo que podemos, e devemos, ser inclusivos sem trocar os adjetivos ou substantivos, bastando combater a intolerância religiosa, a xenofobia, a misoginia e praticarmos abusivamente o prefixo ‘anti’ (antirracismo, anti-homofobia, antissemitismo etc.). Em vez de ficarmos patrulhando e exigindo o politicamente correto, seria melhor praticarmos concretamente boas ações.

Que tal ajudar um cego ou aleijado a atravessar uma rua? Não sonegar impostos e pagar salários dignos aos nossos prestadores de serviços?

Finalmente, lembro que mais importante do que a palavra dita é o tom em que ela é pronunciada. Existe coisa mais doce e carinhosa do que um olhar meigo e uns braços estendidos dizendo “vem cá minha nega” ou “dá cá um cheiro meu nego”?

Por: Alfeu Valença – Original do Portal Tempo Real

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