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Metáforas da Sociedade

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2038

Viver em sociedade e seus desafios. Como viver em meio às diferentes instituições e situações cotidianas que são feitas por regras, já instituídas e sob as quais nos moldamos? Quantas pessoas se sentem como peças de uma maquinaria onde a vida perde, de pouco a pouco, o sentido? Maquinaria de regras que são feitas por alguns para que a maioria obedeça.

Claro, as regras sociais, as leis são necessárias. Mas, poderemos pensar como estas regras e conformidades sociais, bem como as leis são constituídas. Vivemos numa forma social que se diz democrática. No entanto, a feitura das leis advém das cabeças dos representantes políticos que possuem pouca relação com o seu eleitorado, sobretudo, após ao assumirem seus postos.

Vivemos numa sociedade onde muitas pessoas perderam o sentido de viver, pois, não se sentem pertencentes ou pertencidas aos espaços e experiências sociais. De pouco a pouco, o sentido de se sentirem pertencentes foi se desfazendo. Sentem-se como peças de uma máquina que descarta aqueles que não são produtivos. Sentem-se como peças descartadas de uma maquinaria que valoriza somente aqueles que são produtivos, eficazes, performáticos e que atendam às exigências do mercado. A lógica ultraneoliberal de mercado está por todos os lados e dentro das almas das pessoas.

Por isso muitas pessoas sentem uma necessidade de estarem permanentemente se atualizando, mesmo sem saber ao certo se o que está estudando será utilizado em seu trabalho. O negócio é se sentir ocupado com algum curso, alguma formação para, por sua vez, se sentir parte da maquinaria de negócios sociais. Deixo as palavras de Ana Karoline S. de Almeida que poderá ampliar o nosso olhar sobre este tema:

“Eu sou um humano, com qualidades, defeitos, sentimentos, dúvidas e certezas. Composto de carne, ossos, sangue, água, razões e emoções. Eu penso, questiono, deduzo, xingo, choro e amo. O que me difere de outros seres? Apenas, minha capacidade de raciocinar? Afinal, o meu raciocínio, me faz perguntar, o que eu sou? De onde eu vim? Qual o meu propósito? Aliás, eu preciso de um? O que é pré-estabelecido na sociedade, se encaixa para mim? Oras, eu tenho duvidas sobre meu próprio ser e como auto relacionar-se, como querem que eu faça parte de algo maior, como iriam separar e selecionar as partes que se encaixam em mim, mas não se encaixam nesse bloco de massa.

Pense para conseguir a forma do desenho eu precisaria cortar partes de mim, arredondar algumas áreas, afinar outras, para que no final eu possa compor mais um pedaço dentre vários outros. Eu sou um ser humano ou uma peça? Às vezes me pergunto se minha composição é mesmo feita de ossos e carne, às vezes, posso ser classificada de plástico, borracha… Afinal, será que existe uma máquina de classificações de pessoas? Teríamos algum tipo de etiqueta de identificação, esse é 100% humano. Seriamos mais peças num estoque, com uma numeração já determinada, de acordo com o seu tipo de material. Aqueles de seda seriam as que ficariam nas vitrines, o espelho a ser seguido e o sonho de todos, já os com “defeitos” e remendados, ficariam no final do estoque, mofados e esquecidos.

Talvez, todas as nossas qualidades e defeitos fossem como sabores, uns mais doces, salgados que passeiam entre o amargo do nosso ser e o equilíbrio entre eles poderia ser o agridoce. A sociedade nos comeria e escolheria qual lhe agradou mais e seriamos rotulados e postos em prateleiras para o consumo. Dariam prazos de validade e seriamos selecionados de acordo com nossas porcentagens de calorias e açúcares. Seriamos bastante procurados e depois de consumidos, jogariam fora, junto com todo o lixo. Alguns seriam reciclados, para uma nova moldagem e utilidade, de acordo com a preferência da sociedade. Já os outros que são perecíveis, são jogados e descartados, por sorte seriamos encontrados por novos seres que dariam um fim menos solitário.”

Bom fim de semana,
Abraço,
Paulo-de-Tarso