Início Opinião Espaço Aberto As agruras da internet

As agruras da internet

0
603

Não é precisamente uma boa ideia, eleger os sites de relacionamentos como principal opção para encontrar sua cara metade. A despeito dos vários casos escabrosos de mulheres vítimas de cafajestes, o número desses sites tem crescido exponencialmente. Inclusive com ferramentas cada vez mais sofisticadas para aproximar casais compatíveis.

A analogia mais coerente que me ocorre olhando para o percurso dessas mulheres é a história de chapeuzinho vermelho atacada pelo lobo mau. A maldade gravitando em torno da bondade, esperando um vacilo para dar o bote. Agora faço uma pergunta: por que Chapeuzinho parou e deu papo para o lobo mau? Ela não tinha medo do lobo mau? E os conselhos da sua mãe? Das duas, uma: ou Chapeuzinho de fato não tinha medo do lobo mau ou arriscou-se além das suas possibilidades.

Ao pensar na insegurança das mulheres, devemos considerar a possibilidade de uma situação familiar não favorável. Em geral, com o papel principal atrás da cena, temos o pai, e a identificação dessa mulher com os fantasmas paternos.

Não se enganem, é inevitável ser contagiada pelos conflitos da família. Ao invés de sentir-se tão apartada das dificuldades dos seus pais, melhor seria dedicar-se a olhar de perto para a realidade familiar que vai determinar todo o seu trajeto. O primeiro destaque na mulher que procura o parceiro na internet é o fantasma da sua fome de amor.

Em segundo lugar, quando uma pessoa procura um site de relacionamento, está em jogo uma questão relacionada ao controle. O desespero de encontrar alguém é só a capa da intenção de controlar o processo de aproximação entre um homem e uma mulher. Na tela do computador se encontram todas as possibilidades que deseja e pode escolher à vontade.

O site de relacionamento facilita o processo de aproximação, a pessoa literalmente salta por cima de uma etapa, do início de um relacionamento que é fundamental: o olhar no olhar.
Presa na sua solidão, vê o site como uma saída, uma porta de emergência que pode salvá-la de uma solidão que julga sem saída. O perigo real não se encontra no risco de ficar sozinha, na verdade esta mulher sente medo de olhar para o seu interior, enfrentar a falta de admiração por si mesma.

Existe um buraco que vem sendo cavado há muito tempo e que necessita ser olhado. Ela acredita que só vai preenchê-lo com um parceiro idealizado. Nesta procura frenética vai aprofundando mais e mais o vazio que sente. Está buscando uma cobertura de chantilly e morangos para esconder o seu bolo faltando pedaços e prestes a desabar.

É verdade que confrontar-se com sua autoaversão é muito menos atraente do que conhecer parceiros diferentes. Não é um homem que vai lhe amar, é você mesma que vai se amar. Em geral a sua ingenuidade leva a crer que está sendo mais esperta que outras mulheres, está cortando caminho, conhecendo um homem super especial, portanto, na vantagem com relação as demais. Vê-se superior quando, na verdade, sente-se inferior.

* Humbelina Grilo G. Mattos – escritora macaense

SEM COMENTÁRIOS