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Enfermeiros formados com bolsa de estudo celebram as políticas de inclusão educacional

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Graças aos programas de fomento à educação, o sonho da graduação se tornou realidade

O combate ao novo coronavírus revelou a face de diversos heróis da pandemia. Os enfermeiros, por exemplo, precisaram se dedicar ainda mais nas inúmeras batalhas enfrentadas nos corredores dos hospitais. Porém, o que muitas pessoas não imaginam é que as lutas desses profissionais iniciaram antes mesmo da atuação na saúde. No contexto social em que a igualdade de acesso ao ensino superior é um desafio, diversas lutas precisaram ser enfrentadas por esses profissionais para alcançar o sonho do diploma.

De acordo com um levantamento realizado pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), 40% dos brasileiros não têm condição de ingressar em uma faculdade, os motivos são variados, mas para 36% dos entrevistados a questão financeira ainda é o principal empecilho. Tratando-se de cursos da área da saúde, o desafio é ainda maior. Para 60% das pessoas ouvidas, o elevado valor das mensalidades, principalmente do curso de Enfermagem é uma grande preocupação.

Ainda que a graduação seja um sonho, o diploma não cabe no orçamento de muitas famílias. No Brasil, o valor médio de uma mensalidade do curso de Enfermagem é de mil reais, de acordo com a Catho. O valor é considerado alto para a renda média domiciliar do trabalhador brasileiro, que é de R$ 1.380, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em fevereiro deste ano.

Em um país onde a maioria das instituições de ensino superior é particular, iniciativas de inclusão educacional, como programas governamentais – Prouni e Fies – e bolsas de estudo ofertadas por empresas privadas, a exemplo do Educa Mais Brasil, são responsáveis por injetar na faculdade particular novos profissionais que não teriam condição de pagar uma mensalidade integral. No mercado de trabalho, esses profissionais se revelam mais do que essenciais para a sociedade.

Fortaleza: primeira mulher a gerir hospital de campanha se formou com Fies

Aos 32 anos, Elzirene Marques é enfermeira, especialista em Implementação de Unidades COVID em Fortaleza, capital do Ceará, e professora universitária e de nível técnico. É a primeira pessoa da família a se formar no ensino superior, e conseguiu o título de Bacharel em Enfermagem com ajuda do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). E não para por aí: ela é a primeira mulher a ser coordenadora administrativa de um hospital de campanha da Covid-19 em Fortaleza. Antes disso, foi ela quem precisou de socorro.

Enfermeira Elzirene-CE. Foto acervo pessoal

Hoje Elzirene trabalha atendendo pacientes em um dos hospitais de campanha no Ceará. No entanto, para conseguir concluir a sonhada graduação, conciliava os estudos com três empregos como técnica de Enfermagem e chegava a pegar seis ônibus por dia. A rotina pesada foi amenizada faltando um ano e seis meses para a formatura, quando conseguiu ser contemplada pelo FIES.

“O Fies é muito importante. Imagine quantas pessoas querem se formar e passam pela mesma situação que eu passei. Meus pais não tinham condições de pagar uma faculdade para mim, a gente foi na luta, e graças à ajuda do Fies eu pude passar mais tempo com minha família e aliviar a rotina que era difícil quando eu precisava conciliar os três empregos para pagar a faculdade antes de conseguir o benefício da bolsa”, relembra.

A paixão de Elzirene pela área da saúde começou a partir de uma indignação com o atendimento prestado ao seu avô em um hospital. “Digo que a Enfermagem me escolheu. Teve uma época que meu avô ficou doente, acho que eu tinha uns 16 anos, aí nós fomos ao hospital em Maraguape (CE) e tinha uma técnica de Enfermagem que deveria ter atendido meu avô logo porque só tinha a gente lá, mas ela ficou passando de um lado para o outro. Falei para ela: ‘olha, um dia vou estar no seu lugar, vou fazer muito diferente do que você está fazendo agora porque quem faz Enfermagem é pra cuidar do ser humano, não para ficar fazendo o que você está fazendo agora’. Com o passar do tempo passei em uma seleção como técnica de Enfermagem para ficar no lugar dessa profissional. Não foi minha intenção tomar o lugar dela, mas foi o destino”, conta sobre o despertar da sua paixão pela profissão.

Quando decidiu cursar a graduação, Elzirene precisou ser resiliente para não desistir antes de conseguir o benefício, como ela relembra: “Até conseguir a bolsa do Fies passei por muita dificuldade, passei praticamente quatro anos e meio dormindo fora de casa por conta dos plantões, eu quase não via minha mãe, meu pai, e nessa transição meu avô faleceu. Então foi muito difícil para mim porque uma das minhas maiores bases era o meu avô. Teve momento que pensei em desistir”, relata.

Como nos tempos de estudante, o sustento da família continua sendo assumido por ela. É mãe solo e reside em Maraguape, região metropolitana do Ceará, com a filha de dois anos, a mãe, o pai e a avó de 93 anos. No começo da pandemia sua filha era um bebê e, mesmo assim, ela precisou lutar, agora para salvar vidas. “Hoje minha filha fica com minha mãe e meu pai durante a semana. Passo 24 horas de máscara, no hospital e, também em casa, porque tenho medo de passar o vírus para eles. Já tomei as duas doses da vacina mas, ainda assim, fico com muito medo de estar perto deles, mesmo não tendo adquirido a Covid-19”, confessa.

O que motiva a enfermeira na batalha diária, desde que começou a trabalhar, é ver os pacientes recebendo alta, o que ela considera como vitória.

Salvador: SUS e Saúde da Mulher são focos de enfermeira formada com Prouni

A recém-formada em Enfermagem, Alice Helena, de 23 anos, reside em Salvador, capital da Bahia, e sonha em cuidar da Saúde da Mulher na sua região. Integrante de família de classe média baixa, egressa do ensino médio cursado em escola pública, ela conseguiu o tão sonhado diploma com ajuda da bolsa de estudo integral do Programa Universidade Para Todos (Prouni).

Enfermeira Alice Helena-BA. Foto acervo pessoal

A jovem enfermeira conseguiu o benefício estudantil no 2º semestre do curso, depois de tentar ser contemplada pelo Fies e Sisu, sem sucesso. Usou a nota do Enem de 2014, reuniu todos os documentos necessários e conseguiu uma das três vagas disponíveis pelo Prouni naquele ano.

O Prouni muda a vida da pessoa. Se eu não tivesse sido contemplada, eu não teria concluído a faculdade ainda, mesmo com tanto sacrifício, com toda família mobilizada para ajudar. Teve um semestre que a mensalidade do meu curso foi de R$2.800. Com certeza, não cabia no meu orçamento!”, destaca, lembrando que nos dias mais difíceis faltava dinheiro até para o transporte.

Com diploma em mãos, Alice Helena pretende contribuir para a promoção da Saúde da Mulher na rede pública de saúde. A motivação veio ainda na graduação, quando sua madrinha – a quem considera como segunda mãe – enfrentou problemas decorrentes da menopausa precoce que a deixaram abalada. “A Saúde da Mulher ainda é vista, muitas vezes, somente como atendimento às gestantes. Felizmente, hoje, temos uma ampla cobertura de atendimento às grávidas no SUS (Sistema Único de Saúde), em comparação há 10 anos, por exemplo. Ainda assim, a Saúde da Mulher vai muito além. Comecei a fazer pesquisas, me interessar pelo tema e senti falta de informações sobre esse assunto, ainda muito restrito. Fico inquieta, me perguntando se é necessário expor a saúde da mulher a uma menopausa precoce porque não tem uma outra opção, por falta de fármacos, de ferramentas que possam auxiliar”, reitera a enfermeira.

Para Alice, trabalhar na rede privada ou pública demanda a mesma responsabilidade e paixão por cuidar. No entanto, seu foco está no setor público, e se depender da sua força de vontade os pacientes só têm a ganhar. “Me apaixonei pelo SUS quando conheci redes públicas durante os estágios da faculdade. Fui apresentada a um mundo que eu não tinha conhecimento, pois é um sistema completo. Há algumas falhas por problemas de gestão mas, se eu tiver oportunidade, pretendo contribuir na saúde pública”, justifica a profissional.

Cresce interesse pelo curso de Enfermagem no Brasil

Uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), com 614 entrevistados, mostrou que 36,1% deles têm interesse por cursos presenciais na área da saúde, cuja preferência é a graduação em Enfermagem, com 11,7% das intenções.

A pesquisa coincide com dados do Censo da Educação Superior de 2019, que já indicavam alta na procura pelas graduações em saúde. “A preferência por formações na área da saúde expõe a crescente valorização desses profissionais durante o combate à pandemia, em especial na linha de frente de enfrentamento”, pontua o diretor-presidente da ABMES, Celso Niskier.

A crescente procura é confirmada por instituições de ensino superior, como a Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, localizada em Salvador, na Bahia. “Tivemos em 2021.1 um aumento de 74% de inscritos e 22% de matriculados em Enfermagem”, afirma o gestor comercial da instituição, Fred Silveira.

O aumento do interesse também foi percebido pelo maior programa de inclusão educacional privado do país, o Educa Mais Brasil, onde as contratações de bolsas para cursos de Enfermagem duplicaram neste ano em comparação ao mesmo período do ano passado.

“Enfermeiros e demais profissionais de saúde estão tendo um papel fundamental nesta pandemia o que só reforça a importância de programas como o Educa que facilitam o acesso ao ensino superior. Contribuímos para a formação de profissionais que são essenciais para salvar vidas”, destaca a gerente nacional de Relacionamento do Educa Mais Brasil, Joyce Guedes.

Dando os primeiros passos na graduação em Enfermagem neste semestre, a pernambucana Júlia Daniela Ferreira, de 39 anos, não pôde ingressar na faculdade logo após concluir o ensino médio por falta de recursos financeiros. Nas idas e vindas ao hospital, acompanhando o tratamento oncológico da mãe, ela renovava o interesse pela Enfermagem vendo a dedicação e cuidado dos profissionais.

Mesmo diante da dor de acompanhar a genitora até o fim da vida, Júlia decidiu que sua missão seria cumprida trabalhando como enfermeira. “Com a bolsa de estudo do Educa Mais Brasil, eu só pago R$ 300 de uma mensalidade que custa mil reais. Foi o momento certo para começar a faculdade. Vejo a pandemia como uma oportunidade para cuidar do próximo. Enfermagem é isso”, define a estudante na expectativa de dar o seu melhor durante a formação para, daqui a alguns anos, cuidar das pessoas.

Como ingressar no ensino superior com bolsa de estudo

Existem diversas formas de iniciar uma graduação, seja em instituições públicas ou particulares. Através do Exame Nacional do Ensino Médio, o estudante pode ingressar por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), pelo Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) ou através do Programa Universidade para Todos (Prouni).

Além disso, é possível conseguir bolsa de estudo através do Educa Mais Brasil, maior programa de incentivo à educação do país, que oferece descontos de até 70% em diversas instituições de ensino superior. As inscrições podem ser feitas em qualquer época do ano, através do site http://www.educamaisbrasil.com.br/. As bolsas – todas parciais – podem chegar a 70% de desconto. Diferente da modalidade de financiamento, não é preciso pagar nada após a conclusão do curso.