A sequência de mortes registradas nos últimos dias em Macaé, que envolvem uma disputa sangrenta pelo domínio do tráfico de drogas, passa a ser o retrato de uma cidade sucateada pelo abandono do poder público, impactada pela crise econômica nacional e superlotada de pessoas que ainda buscam espaços no cada vez mais restrito mercado de petróleo.
Por semanas, corpos são encontrados mutilados no Rio Macaé, homicídios brutais ocorrem em vielas das principais comunidades da cidade e caso de desaparecimento se propagam pelas redes sociais, que ajudam a disseminar o medo diante de uma realidade muito semelhante a das grandes cidades do país, o que representa o processo de expansão dos domínios do crime organizado, que possui as suas próprias regras, leis e punições.
Cenas imortalizadas por obras cinematográficas, como os filmes Cidade de Deus e Tropa de Elite I e II são hoje a verdadeira realidade encarada por crianças e adolescentes, adultos e idosos, que foram segregados pelo progresso e abandonados pelo poder público, sendo hoje as principais vítimas de uma verdadeira Guerra Civil, onde as forças de segurança passam a ser meros espectadores.
Com o fortalecimento das operações nas comunidades do Rio de Janeiro, e com o alto custo das propinas e da corrupção, as facções que atuam no tráfico querem expandir os negócios, intensificando bases montadas nas principais cidades do interior do Estado.
E por concentrar o maior volume de riquezas, com a população com maior poder aquisitivo, Macaé torna-se uma peça chave para essa mobilização do tráfico ainda em curso, mesmo com as ações da intervenção federal na segurança pública do Estado.
Ao comemorar a redução de índices de crimes na Capital, o comando do Exército esquece de avaliar os dias sangrentos que voltam a ser registrados em Macaé e nos demais municípios do interior. Contando apenas com batalhões sucateados e policiais desmotivados, essas cidades vivem à mercê da sorte, e cada vez mais reprimidas pelo forte poder bélico das facções criminosas que estão preparadas para seguir com a sua estratégia.
Enquanto houver um jogo de empurra entre as autoridades responsáveis por encarar de frente essa situação, não haverá outra saída senão ensinar a sociedade a conviver com o medo diário e irracional, que só vai gerar ainda mais dor, sangue e violência.