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Descomissionamento e Comunidades Marinhas

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Em recente artigo publicado na famosa Revista “Nature – International Journal of Science” os autores desenvolvem um extenso estudo acerca da colonização por organismos sedentários, de vida marinha, em estruturas feitas pelo homem, incluindo plataformas, oleodutos, cabos, dispositivos de energia renovável e naufrágios, por oferecerem um substrato duro no ambiente predominantemente sedoso do Mar do Norte. Tais estruturas tornam-se colonizadas por organismos sedentários e peixes não migratórios e formam ecossistemas locais que atraem predadores maiores, incluindo focas, pássaros e peixes.

Diversos estudos mostraram que mudanças no arranjo geral de áreas de substrato duro por meio da remoção, como o caso dos descomissionamentos, ou adição de estruturas individuais afetarão a interconectividade e exercerá, por consequência, interferência direta no ecossistema. Os estudiosos avaliaram, inclusive, a conectividade com estruturas de petróleo e gás, parques eólicos, naufrágios e substrato natural duro, utilizando um modelo que apresentaram resultados de distribuição espacial global relativamente estável, mas com variações distintas entre espécies e anos.

Segundo o estudo, existem muitas influências potenciais das estruturas feitas pelo homem nos ecossistemas marinhos. Estruturas feitas pelo homem também podem apoiar comunidades diferentes daquelas encontradas no substrato natural, afetando a função do ecossistema. De fato, o acréscimo ao ambiente marinho de estruturas feitas pelo homem pode ser positivo, entretanto, a introdução de condutos para espécies não nativas, exóticas e invasoras pode ser prejudicial.

Atenção especial para um grande problema doméstico, encontrados pelas operadoras e pelos órgãos ambientais brasileiros em processos de descomissionamento: “CORAL SOL”. O Estudo tem imensa importância, pois evidencia a conectividade de muitos sistemas marinhos, no mar do norte, incluindo os recifes de coral, costões rochosos entre-marés, e peixes. Muitos sistemas marinhos foram descritos como “abertos” e demonstraram ter potencial para dispersão em grandes áreas e períodos de tempo prolongados durante as fases pelágicas de muitos dos organismos marinhos.

Mais recentemente, o impacto da dispersão pelágica na conectividade foi estudado usando abordagens de rastreamento de partículas que modelam a hidrodinâmica e o comportamento das larvas. Esses modelos têm sido utilizados para avaliar o recrutamento de espécies comerciais de peixes e águas-vivas. Corredores entre estruturas como dutos fornecem um mecanismo para a colonização de espécies de recifes que não possuem dispersão pelágica. O comportamento de organismos móveis também é importante e tem sido extensivamente estudado.

Precisamos avançar com estes estudos para mapear como a conectividade ocorre e entender se os e mesmos podem ser extrapolados para a realidade brasileira, servindo de ponto de partida para que órgãos ambientais, operadoras, universidades, Marinha, ANP, empresas ambientais e sociedade civil organizada possam realizar um estudo mais adequado a nossa realidade.

Nossa tendência um descomissionamento se concentra na retirada de plataformas e equipamentos submarinos, entretanto, podem ser concedidas derrogações ao considerar que existem benefícios para o ambiente marinho (por exemplo, Rigs-to-Reefs), mas há debate sobre se o efeito é realmente satisfatório. Verifica-se, então, a necessidade imediata de avançar nesse quesito e promoção, urgente, da revisão do Regulamento 27/2006 da Agência Nacional do Petróleo – ANP será essencial para o sucesso de negócio no Brasil.

* Mauro Destri – Consultor de O&G e Membro da Society of Petroleum Engineers – SPE

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