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A liberdade e o desejo

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Como podemos compreender o desejo? O que é a liberdade? Para algumas teorias o desejo será compreendido como falta. Algo falta ao desejo para que ele se realize. Uma falta original condicionaria o desejo para que viva a sua incompletude.

No entanto, o desejo poderá ser visto como o processo de regeneração ou de recomposição da existência. Cada um irá se ligar aos inúmeros objetos que possa se encontrar durante a sua vida, regenerando-a, recompondo-a através destas mesmas ligações. Desta forma, o desejo não será mais visto como falta, mas, sim como o processo de recompor a vida de cada um através dos encontros.

Bem, vemos que no contemporâneo as pessoas têm ligado o desejo aos inúmeros objetos que são oferecidos pelo mercado. As pessoas conectam o seu desejo às mercadorias que são encontradas em inúmeros lugares. O desejo pode se ligar às compras num shopping quanto se ligar às verdades de uma religião, ou mesmo no caminho da política.

Em todas estas situações, e em outras também, poderemos encontrar o aprisionamento do desejo. O desejo passa a ser servil. Ele torna-se escravo. O desejo passa a ser guiado pelo desejo de um outro: e não por si mesmo. Desta forma, cada um torna-se prisioneiro de objetos, de verdades e de cargos.

Vemos que muitos ‘soldam’ o seu desejo, ligam-no às situações-objetos, gerando uma vida condicionada à servidão. Ao invés de construírem uma vida livre, tornam-se escravos, pois, são dominados por apelos de inúmeras ordens.

Claro que podemos nos ligar aos objetos, à religião e à política. No entanto, avaliar o quanto a nossa existência é guiada, sem uma avaliação crítica destas instâncias, será viver uma vida levado pela força dos ventos, será ser levado pelo cabresto dos acontecimentos. Quem vive assim vive passivamente a vida.  Vida passiva, sem autonomia de dizer não, de se indignar com aquilo que não acreditamos e que seja prejudicial à vida em comunidade.

Vemos escravos por todos os lados. Vivendo a vida sem avaliar os caminhos que o seu desejo se deixa levar. Deixar a vida nos levar, conforme uma música nos indica, será estar sujeito a tomar o ‘caldo’ de uma grande onda, ou mesmo de um tsunami. Vemos pessoas por todos os lados vivendo a vida sem direção, ou mesmo, sem saber o que fazem da própria vida. Deixam-se levar pela grande onda que é a vida, sem avaliar no que o seu desejo movimenta seus caminhos.

Platão já dizia que o povo vivia olhando para as sombras, no mito da caverna. As pessoas olham para as sombras da sua existência não tendo, por vezes, coragem de olhar para a vida com claridade, com toda a sua verdade. Foucault, na sua última obra, nos dirá sobre o conceito de parresia. Conceito grego que significa ‘falar francamente’. Apoiados por este conceito, indagaremos: quando falamos francamente conosco? Quando olhamos para a nossa vida e perguntamos: será que vale a pena tudo isto que vivemos e fazemos para nós e para os outros? O quanto meu desejo é colocado apenas para a realização de lucro, de posição social, dentre outros desejos?

Este tema nos leva ao que passamos no Brasil atualmente. Pergunto: aqueles que ocupam os postos de ‘poder’ falam francamente sobre as suas intenções? Eles se ocupam com os interesses realmente públicos? Em outras palavras, qual é o real desejo destas pessoas?

A liberdade começa quando libertamos o nosso desejo dos caminhos fáceis! Dos caminhos que ostentam aparências belíssimas com promessas de grandes realizações, mas, que no final se tornam a grande tormenta da vida de tantos!

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